INVERNO
Fátima de Carvalho Palácio
Ando em direção ao cinema.
O frio toca em minha pele como seda. A minha volta as pessoas estão com falta de verão.
Encontro você no saguão, ingressos comprados, temos tempo para tomar um café.
Você acende um cigarro. Sopra a fumaça em minha direção, pergunta: quer?
De repente percebo a abrangência da resposta.
Tola que sou ignoro sinais de fumaça. Ignoro tua impaciência.
Digo que não quero.
Não fumo, pelo menos hoje. Também não fumei ontem, mas quem sabe amanhã?
Na tela a mocinha beija o mocinho.
Olho para a aliança em tua mão. Tuas certezas, teus caminhos traçados sem duvidas. Eu duvido tanto. Mas não pergunto mais.
Na saída fico parada na escada.
Em minha cabeça, ouço claramente Elis, cantando Corsário.
Nova Granada de Espanha.
Tarde de sol, sem trânsito na Av. Paulista.
Beijo seu rosto. Sou Judas, sem Jesus.
Sou um Judas barato, sem perguntas, sem respostas.
Sem segredos.
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