ENIGMA
Bárbara Helena

Ele sabia que havia uma porta, só não lembrava aonde. Na verdade, não tinha certeza se havia uma porta. Na verdade nem tinha certeza sobre algum dia ter tido certezas. A parede nua estava diante dele como um enigma. Para trás não era possível. Ou era? Não lembrava o que havia antes, se é que antes houvera alguma coisa. Bom, pelo menos a parede estava ali diante dele. Quer dizer, como saber se estava diante dele, se não tinha noção do lugar, da perspectiva em que se encontrava? Talvez ele é que estivesse atrás dela e, neste caso, era o obstáculo a ultrapassar. Mas ultrapassar porque? Esquecera o propósito. A única coisa que sabia com certeza era da existência de uma parede a sua frente. 

Não. Nem isto sabia com certeza. Somente via uma parede branca, mas podia estar delirando. Seus sentidos podiam estar criando uma parede inexistente. Neste caso, estaria diante da possibilidade de uma parede real. Sim, isto podia concluir: havia a possibilidade de uma parede real. Ou não? Como decidir sobre a possibilidade de algo que não tinha certeza de existir? A partir de que dado concluíra a existência de uma parede branca? Via uma parede e parecia branca, mas podia não ser uma parede e podia não ser branca. Podia ser a continuação absoluta de um objeto plano que, do local onde estava, não era possível visualizar. Podia ter um tamanho muitas vezes maior que a sua altura e o que lhe parecia uma parede ser apenas a aresta de um triângulo. Por que um triângulo? Não era possível tomar decisões precipitadas, tirar conclusões apressadas. Olha para cima e, realmente, a suposta parede/ângulo continua indefinidamente e definitivamente parece branca. Definitivamente não. Branco é a ausência de cor. Isto se ele estivesse falando de pigmento, se estivesse diante/atrás/ao lado de algo concreto. Mas podia ser a ausência do concreto. E podia ser a junção de todas as cores, se fosse luz. Na verdade, não era possível pensar em branco, como nunca fôra possível pensar em retas. Não existiam retas, só ilusão de ótica. Então estava diante/ao lado/atrás de algo que possivelmente era uma ilusão. E como supor uma saída a partir de uma ilusão? Se é que havia uma saída.

Se é que ele estava ali procurando uma. Se é que ele estava ali. Se é que ele estava. Supondo que ele existia. Supondo que não seja apenas a versão de uma consciência além dele. Que não seja apenas um personagem criado por alguém que neste momento tecla sua história. Que não seja parte de um enigma maior, de alguém que está agora pensando nele, diante de uma parede branca. Ou será que não é uma parede? Ou será que não é branca?

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