PASSADO
QUE FOI, PASSADO QUE FIZ
Reinaldo de Morais Filho
Embora eu pergunte
Não quero resposta,
Quero apenas olhar em teu rosto
E ver nos traços de mistério
Que enrugam tua pele macia
Um passado qualquer que eu possa inventar
Um caso escondido
Um crime, um pecado
Pois quando te olho em um dia ordinário,
Sob a brancura transparente
Em que se descolore tua tez,
Imagino uma doce criatura:
Tão doce que virgem;
Tão inocente que pura
Penso-te mulher apenas em meus braços,
Quando te mostras de tal forma madura
Que qualquer dúvida,
Qualquer lacuna em minha memória limitada,
Constrói os pensamentos daninhos
Que enxergam a crueldade, a malícia,
Interesses capciosos
Que me espreitam, que me ameaçam
Que me obrigam a perguntar
Mas não quero saber a verdade
Que, por mais inócua,
Singela e comum,
Causará dor em meu peito
Será, para mim, desilusão
Pergunto,
E nem sempre espero resposta
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