RESPOSTA
Marco Brito
As perguntas:
O andarilho caminhava na beira da praia. Suas pisadas deixavam pegadas na areia fina da beira do mar. O mar ao vir lamber as bordas da terra apagava aquelas pegadas, não permitindo ao andarilho mensurar a distância que levava meditando sobre cada uma das suas preocupações.
Como suas preocupações não podiam ser mensuradas pelos passos que dava, restava ao homem tomar como base o tempo levado em cada meditação.
Passou então a observar o transcurso do tempo através das mudanças das cores no céu. Mas eram tantas as cores e tantas as matizes com que se pintava o céu, que o andarilho extasiado viu chegar a noite e com a noite a escuridão.
Com a escuridão o andarilho não via mais a extensão dos seus problemas e sem esta extensão seus problemas tornaram-se pequenos para o dia que tinha passado.
O andarilho então resolveu dormir e deixar para o dia seguinte a difícil tarefa de medir a extensão dos seus problemas...
A resposta:
Em frente ao mar...
O homem sentou-se numa pedra. Não percebeu que já era noite e findara-se o dia. Não prestava atenção ao que se passava à sua volta. Não enxergava o horizonte à sua frente nem ouvia o quebrar das ondas abaixo dos seus pés...
Mais uma vez ele voltava àquele lugar. E mais uma vez ele sentia o mesmo vazio que lhe marcava o peito sempre que tocava naquelas lembranças.
Ficou ali. Parecia estar ainda ouvindo a voz doce e meiga que guardava na memória. Não ouvia o som das palavras, mas sentia a suavidade com que cada uma havia sido dita. A mesma doçura que o havia lançado àquele ritmo louco de vida.
Fizera-se mergulhar no trabalho, viajara, correra mundo, pisara em terras estranhas, deitara-se em muitas redes.
Tinha deixado todas estas lembranças de lado. Sabia que não as tinha perdido no esquecimento, mas sabia que podia mantê-las jogada naquele canto escuro da sua vida. Ou melhor, imaginava que pudesse ser assim. Até que a campainha do telefone tocasse no início de tarde daquele dia...
Foi como se estivesse voltando de um sono profundo, um sono o qual trazia vagas imagens e poucas recordações. Foi como se estivesse sendo acordado, se não violentamente, mas de tal forma abrupta, que nem se dava conta se dormia e sonhava ou se já nem sonhava enquanto vivia.
Ficou ali. A ruminar seus pensamentos, a catar fragmentos da última conversa que haviam tido.Tentava recordar a cor do tecido do sofá no qual sentaram para despedirem-se. Não ele, mas ela, com sua voz doce e meiga. Ele jamais se despediu. Apenas aceitou o sonho que ela precisava viver, um sonho começado bem antes de terem-se conhecido. Um sonho...
O vento soprou-lhe fresco no rosto trazendo-o à realidade daquela pedra. O homem então se levantou, caminhou até a beira da praia e molhou seus pés com as lágrimas que lhe escorriam pela face...
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