QUE SAUDADES!
Fábio Luiz

- Responde!!! - Sua voz já estava alterada. Era a quinta vez seguida que perguntava a mesma coisa. Ele, ao seu lado na cama, continuava olhando o noticiário e lendo o jornal ao mesmo tempo. Ou tentando fazer as duas coisas. A terceira seria prestar atenção ao que Amélia dizia. O que era pedir demais para o pobre trabalhador.

- Carlos Alberto! Quer fazer o favor de responder? Por acaso eu sou estátua pra você não me ouvir? - Apertava os dedos no braço dele como uma tenaz.

- Ai! Claro que sim! - A dor ajudou a atrair sua atenção.

- Quer dizer que eu sou estátua né? - Cruzou os braços, indignada.

- Não! Eu quis dizer que claro que vou te responder! Parece louca! - Os olhos voltaram para a televisão.

- Responde então, criatura! Vai me deixar esperando a noite toda?

- Vou!

- O que????

- Responder a sua pergunta, oras! Ô, Amélia Maria, você não está querendo conversar comigo, me avisa! Estou vendo o meu jornal e você fica me enrolando! Será o Benedito?

- Quem?

- Quem o quê?

- Meu tio Benedito... O quê ele tem a ver com isso? Odeio quando me chama de Amélia Maria. Anda, responde! - Remexia nos cabelos como sempre perfumados do seu banho vaidoso de antes de dormir - Responde antes que eu te deixe como urubu atrasado.

- Nada!

Olhou nervosa e bradou: - Nada?? Essa é sua resposta afinal para o que eu te perguntei?

Mirou seu olhar antes de responder. Adorava quando ela mordia seus lábios quando nervosa. Aquilo que era mulher. Além do mais, o jornal da televisão estava no seu final. Respirou fundo, olhou pra cima, suspirou bem mais fundo, dessa vez para dar ênfase ao que ia dizer:

- Nada é o que o seu tio Benedito tem a ver com o que estamos falando. E Tudo é a resposta à sua pergunta. Você é e sempre será tudo pra mim! Cada vez que te vejo ou sinto seu respirar perto de mim, sinto que sou o homem mais feliz do mundo.

Ela sorriu emocionada e com os olhos já lacrimejantes. Beijaram-se como dois jovens no primeiro amor. E o resto da noite, um ao lado do outro, foi uma maravilhosa reprise do início de romance.

Abraçados, fumando um cigarro e na moleza gostosa pós-carinhos, os dois olhavam para o teto no qual a aurora sinceramente mostrava a necessidade urgente de uma pintura nova. 

- Mário Lago! - Amélia exclamou, batendo a mão espalmada na coxa de Carlos.

- Mário? Que Mário, mulher? Quem é esse?

- Mário Lago! É a resposta ao que eu estava te perguntando! Ele que fez aquela música de onde minha mãe teve a idéia para me colocar o nome de Amélia em homenagem. Eu não conseguia resolver a palavra-cruzada.


Pequena homenagem ao advogado, compositor, ator e exemplo de vida -
Mário Lago (1911-2002)

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