MENSAGENS
DE ONTEM
Bárbara Helena
Antes da Internet, nunca fui uma boa correspondente. Respondia raramente às mensagens que me enviavam, até que meus amigos desistiam de continuar esse relacionamento unilateral.
Mas eu escrevia as cartas.
Na minha mente compunha engraçadas ou comovidas respostas e algumas cheguei a colocar no papel. O problema era levá-las ao Correio. Permaneciam nas gavetas da vida, intocadas, até que o acaso ou alguma arrumação mais rigorosa as fizesse reaparecer como mensagens de ontem.
Então eu as lia, curiosa. Eram palavras de alguém que eu fui um dia e descreviam uma história que não existe mais.
Via essa pessoa do passado com perplexidade um tanto terna, mas não tinha saudade dela. Ontem e amanhã são nebulosas que se modificam ao sabor de lembranças e expectativas.
Na verdade, para mim, eram como mensagens na garrafa que haviam navegado num mar de esquecimento para, de repente, surgir na praia da lembrança.
E tomava conhecimento delas, não como o náufrago que se agarra a um possível qualquer para sair do isolamento, mas como o comandante que já saiu do porto e espera chegar a algum incerto cais. Talvez melhor, quem sabe. Estamos sempre a espera de um espanto.
E me contavam também que fui outra pessoa. Que sofri e me apaixonei por gente cujo nome quase nem lembro mais.
Quantos outros fomos no passado? Como mudamos a cada nova descoberta.
Foi assim tão importante aquele amor de ontem? Como era ridícula a paixão adolescente. Que abuso de palavras! Que falta de juízo!
Fico feliz que não as tenha enviado. Que tenham permanecido comigo para que pudesse recebê-las como se fosse o amigo ausente ou o namorado esquecido.
Mas se elas tivessem ido embora no seu tempo, essas mensagens esquecidas, que mudanças teriam trazido à minha vida?
E brinco de pensar que se tivessem sido enviadas eu não estaria aqui falando delas.
Talvez nem estivesse aqui.
Estaria em outro lugar. Numa outra vida.
Paralela.
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