SEM RESPOSTAS
Bárbara Helena

Por que você me cobra uma resposta, se estou aqui tão cheia de perguntas? Por que você me cobra uma resposta, se não sei porque existo nesta noite escura? Porque você me tenta com questões inúteis? Não basta perceber o mar batendo ao longe? Não basta o sussurrar do vento nas palmeiras? Não basta perceber que a vida corre palpitante, que o coração não quer deixar de estremecer surpreso? Por que você me cobra uma resposta, se as perguntas que dançam na imensidão do tempo estão todas intactas? Se até no inesperado, a noite tem limites? Por que você não deixa as minhas mãos nervosas ensinarem tudo? Por que você me exige uma resposta se no clarão estático da lua, há mariposas tontas, doidas pra morrer de estio? Por que você me cobra uma resposta se no meu leito há mil questões bailando e no entanto me aquieto e escuto a hora. Por que você me cobra uma resposta? Não vê que o tempo vem correndo de sudeste e a caravana parte ao amanhecer? Por que você não finge que este agora é sempre? Porque você está sempre tão partido? Por que você me cobra uma resposta, você que nem chegou e já procura o novo. Que não sabe escutar a lua branda. Que não sabe as delícias do poente. Deixa falar a noite nos meus braços, deixa correr o vento nos cabelos, deixa a lua qualquer mostrar seu brilho. Por que se preocupar com estas respostas, se as perguntas possíveis já se foram no inexorável ontem de nós dois? Quem sabe o que cantou quem foi embora? Quem sabe o que sonhou quem já não é?

Deixa na noite quieta as nossas mãos serenas. Dissolve no meu carinho a sua pena. Deita ao meu lado em vez de andar em círculos. Encontra o centro e esquece as latitudes. Encontra o eixo e acerta os seus ponteiros. Encontra o meio e aceita o meu amor.

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