MEU AVÔ, MEU PAI E EU
Nerino de Campos

Éramos meu pai e eu, a acompanhar o caixão ladeira abaixo, carregado por dois empregados da fazenda; dois miseráveis que o meu avô sugara toda a energia durante a sua existência. Centena de outros miseráveis acompanhavam o cortejo fúnebre de suas casas, atrás das gretas das janelas, temerosos de que o fantasma do meu avô rompesse a tampa do caixão e voltasse a hostilizá-los como sempre fizera.

Ao voltarmos para casa o meu pai olhou, por muito tempo, o lugar deixado por meu avô, até assumi-lo, adquirindo a personalidade perversa que pairava no ar a procura de fragilidade, passando, desde então, a nos hostilizar como era o costume.

Hoje o meu pai está sendo sepultado e os miseráveis esperam que eu tome a atitude costumeira, apesar de eu já estar com as malas prontas para, finalmente, seguir o meu destino.

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