ESPOSA
CÁRMICA
Marta Rolim
Ele voltou no meio da noite. Bêbado, completamente bêbado. Janis riu, nervosa. Alimentara um fiozinho de esperança de que ele mudaria os hábitos; de repente ele se tornaria um homem de gestos elegantes, educado, como um dia, há muito tempo, já fora. Mas nada, nem depois do acidente mudara o rumo: tonto veio para casa, deitar-se no leito, aconchegar-se junto ao seu pescoço. Claro, agora ela não podia enxergá-lo, mas o hálito, o hálito estava ali, o cheiro inconfundível e forte, invadindo o quarto, penetrando suas narinas; um beijo trôpego roçando sua boca, molhado e agudo como um vento frio. Não adiantara trancar a porta, jogar as chaves e as duas alianças fora, ele viria todas as noites para casa.
Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.