OITO ANOS
Aline Toledo

Ele estava mais bonito. Parecia mais maduro, mas ainda transpirava o mesmo ar jovial.

Oito anos, pensava ela, e o sentimento tinha a mesma intensidade. Estava apenas hibernando dentro dela como se estivesse esperando uma palavra para ser acordado. E foi. 

Ele estava ali diante de seus olhos, falando e sorrindo, deixando-a louca. Como oito anos antes.

Um beijo inesperado. Quase inesperado.

"Não se pode beijar uma mulher inesperadamente - apenas mais cedo do que ela esperava." De quem é essa frase mesmo? Bem, ele a beijou daquele jeito apaixonado exatamente como há oito anos.

Por que ele estava ali? Será que gostava dela como ela dele?

O tempo foi passando e eles continuaram se encontrando. Furtivamente. Como se fossem amantes. Por quê? Ambos não eram livres e desimpedidos? Por quê?

A dúvida a consumia como oito anos atrás.

Bastava, no entanto, ouvir a voz dele para o mundo parecer pleno de esperança.

O coração batia forte. Será que ele percebia o impacto que provocava nela? Será? Ela faria de tudo para disfarçar se tivesse consciência das frases sem sentido, do rubor da face, do não saber o que fazer com as mãos.

Ela não tinha mais paciência. Mais uma vez, ela diria que não suportava aquela indefinição. Com ela, era tudo preto-no-branco. Ou vai ou racha.

Sempre rachava. E ela sofria. Será que ele também sofria?

Estava quase perdendo a paciência, mas, dessa vez, as coisas pareciam mais proveitosas.

Ela havia conseguido conhecer a mãe dele. Quanto isso significava para ela! A mãe gostou dela porque estava escrito em sua testa o quanto aquela moça gostava de seu filho. O quanto estava disposta a fazê-lo feliz. Uma aliada, enfim.

Um dia, cansada das idas e vindas daquele relacionamento instável, ela caiu aos prantos no colo da mãe dele. E desabafou. Disse tudo.

Oito anos despejados em poucas frases incompreensíveis e muitas lágrimas plenas de significado.

A mãe, hesitante, resolveu contar a ela o motivo da inconstância do filho - não só com ela, com todas as mulheres.

Aos 17 anos, ele se apaixonou por uma moça. A primeira paixão. Ela, depois de jurar amor eterno, o trocou por outro. Com tal rapidez que havia ficado claro que saía com os dois ao mesmo tempo. Ele prometeu, então, nunca mais se apaixonar por ninguém.

Enquanto ouvia a história que a mãe contava, lembrou-se que, quando eles se conheceram, ele tinha 18 anos. 

"A paixão frustrada deveria ser recente".

A mãe, de repente, ficou olhando para ela, pensativa.

"Ele faz aniversário no começo do ano".

Aquela senhora ficou olhando longamente para ela sem pronunciar nada. Assim, pensativa, parecia anos mais velha.

Saiu apressadamente para o quarto do filho. Abriu várias gavetas. Por fim, encontrou a foto que procurava e foi mostrá-la à moça, que terminava de enxugar as lágrimas, como que entendendo pela primeira vez as coisas.

"Veja a foto daquela moça".

Ela não quis ver. Sentiu-se ofendida. Levantou-se disposta a ir embora.

A mãe insistiu: "acho que você deve ver a foto".

Muito a contragosto, ela olhou. Sentiu um arrepio de horror e prazer ao mesmo tempo.

Era uma foto dela, oito anos mais nova. A foto que havia dado a ele há oito anos.

"Não. Preciso explicar. Eu não saía com outro cara. Eu gostava dele. Mas ele era tão imaturo. Tão inconstante. Um rapaz da faculdade se interessou por mim e resolvi iniciar outro namoro para esquecer seu filho. Para me livrar de um fantasma. Um fantasma que me persegue há oito anos".

Não soube o que falar por alguns eternos segundos.

Era esse o medo que os separava. O fantasma que os atormentava há oito anos.

Não pôde deixar de sorrir. Encheu-se de coragem para expressar a ele todo seu amor. Restava ainda, se fosse tarde, um pedido de perdão.

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