MONOMATAPA
Paffomiloff

Errei, uma vez, por desertos campos ardentes, onde a luz solar contraía minha pele, fechando-me os músculos da face sobre olhos lacrimejantes. A língua inchada se contorcia pela caverna seca da garganta.

O som úmido de uma nascente molhou minha esperança. Arrastei meus calos errantes por pedregulhos barulhentos, que friccionavam a areia brilhante. Recebeu-me, o oásis, como os seios macios de mãe, invadindo minha boca, arrefecendo o calor que me devorava as entranhas.

O fantasma de uma rainha negra refrescou-me com sua sombra e arrastou-me por seu saudoso palácio em ruínas, cujas portas, esculpidas em rugidos de leões, abriam-se para salões onde as palavras ditas se perdiam nas distâncias. O chão, acarpetado com o carinho de animais peludos, acariciava meus doloridos pés descalços.

No quarto, sobre o colchão de sons da noite, embalados por cortinas de brisas rendadas, teríamos dormido sob os lençóis de cheiro de relva cortada, se eu, errante, não tivesse acordado.

Minhas costas ardentes sentiram a brisa da noite. Enquanto o frescor da água escorria por minha barba pinicante, machucaram, os meus olhos, as luzes cegantes da minha salvação.

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