CONFISSÃO
Nerino de Campos
Não foi bem assim que a coisa aconteceu, porém, para amenizar a minha situação diante da justiça, fui obrigado a inventar tudo aquilo. Agora, arfando aqui no leito de morte, necessito dizer que na vida, se você erra uma vez, principalmente da maneira trágica como eu errei, existe o desejo ilusório de transformar as imagens em palavras, como se uma apagasse definitivamente a outra da nossa existência.
Mas naquela noite, apesar do ódio que sentia por Luiza, não tinha intenção de matá-la, a não ser que ela estivesse com o amante naquele momento, no entanto, ao passar frente ao banheiro, notei que ela tomava um banho de espuma. Ao seu lado, numa pequena mesa de armar, havia um abajur aceso, uma garrafa de vinho Rubesco Torgiano e uma taça pela metade. Eu entrei e caminhei em sua direção. Ela sorriu e me chamou, estendendo os braços. Eu também sorri, e ao virar-me, esbarrei propositadamente com o cotovelo no abajur, empurrando-o para dentro da banheira. Depois esperei que Luiza acabasse com aqueles horríveis solavancos para sair desconsolado a procura dos vizinhos.
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