TERRORISMO PSICOLÓGICO
Bruno Freitas
Erra uma vez, um daqueles dias que você não faz nada certo, quando tudo dá errado, e se algo não deu errado, tão pouco certo, foi porque você não teve tempo de fazer.
Você chega em casa exaurido, de tantas coisas incertas, e encontra uma mulher sentada no sofá, querendo alguma confissão.
- Você tem alguma coisa pra me contar?
Tenho sim: A terra é azul e redonda! O espaço é infinito, as estrelas estão a milhares de anos luz, o som não se propaga no vácuo, e neste momento ocorre algum fenômeno astronômico como por exemplo: O alinhamento de cinco planetas... Pera lá! Isso aí, já é terrorismo psicológico...
- Que é aquilo de Sexo.com no nosso desktop?
- Não sei de nada... Já estava assim quando eu cheguei...
Caros seres do sexo masculino, prestem bastante atenção no que vou lhes dizer: Neguem até a morte, mesmo que tudo conspire contra você, e todas as evidências não estejam a seu favor... Neguem! Sustentem a mesma mentira deslavada da noite anterior - Oops... Encarem com bom humor sempre, e apelem até ao sobrenatural. Declarem qualquer prova concreta como relativa, e façam de conta que não é com vocês. Eventualmente elas cansam... Eventualmente.
Caso tudo falhe... Apele para a indignação, e jure pelas barbas do profeta que o que disse é a verdade, pois afinal tudo é relativo e as coisas nem sempre são o que parecem. Mostrem toda a aversão a qualquer desconfiança, e afirmem toda sua masculinidade no colchonete estendido no canto da sala. Mostrem determinação em dormir no chão e ao relento, pois macho que é macho dorme até na varanda. Não é de hoje que elas vêm usando a mesma e velha tática da indignação ao seu revés.
Espere até o último momento pra ela pedir arrego, e não desista meu caro amigo, pois, a perseverança é a última que morre, mesmo correndo o risco de amargar no mesmo canto da sala onde estendeste o colchonete. Não se acanhe com a falta dos beijos-correios estalando pelo ar, ao serem enviados do outro canto da sala.
A vida é assim, cheia de altos e baixos, e assim como as relações, cheias de altos e baixos. Numa hora você está deitado num belo colchão de molas, lá no alto das suas idéias, enxergando o chão lá em baixo, e noutra hora você fica assim mesmo, deitado no chão, num colchonete estendido no canto da sala.
Se por ventura você não for salvo pelo gongo, por uma voz aceitando suas broncas desculpas, e pedindo que você volte. Se por ventura aquela voz percebera que bem no canto da sala e estendido num colchonete, alguém pedia desculpas, e que essas desculpas valiam mais do que qualquer outro pedido formal e inadequado das próprias palavras em si. Mais ainda, que essas broncas desculpas, eram as melhores que podiam existir, recém chegadas de uma mente bruta e informal do macho forte e dominante. Você! Um cachorrinho acuado no cantinho da sala, bem ali, naquele chão frio...
Se você ouvir essa voz pode ir, sem medo de ser feliz... Siga sua intuição e encontre-se com a quentura dos pezinhos quentinhos, embaixo do cobertor. A felicidade porém não virá logo em seguida. Pois, basta que você deite no belo colchão de mola, e cubra-se contra o frio, para escutar as mesmas perguntas de antes.
- Que era aquilo mesmo? Hein?
Como se uma confissão fosse salvar sua pele... Não se deixe enganar, nem tripudiar neste momento, meu caro. Negue até a morte... Isso tava aí! Você hein? Querendo botar a culpa em mim, né? Você não tem vergonha não?
Teria sido melhor enfrentar o chão frio da sala, com o colchonete...
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