ARMOCEIRO
Paulo Henrique Pampolin

Ah, se eu pudesse, voltaria no tempo, lá atrás, quando era "armoceiro". Sim, "armoceiro" sim! Profissão que provavelmente só existe, ou melhor, só existia no interior. 

Como o frigorífico ficava distante da cidade 15 km, impossibilitava os funcionários de almoçarem em casa. Assim, meninos como eu, construíamos caixote de madeira que eram adaptados a garupa da bicicleta servindo como carreta de transporte.

Fazíamos acordos com os funcionários do frigorífico e diariamente no horário do almoço, pegávamos suas marmitas em suas casas e as levávamos nos caixotes da bicicleta para o frigorífico. 

"Armoceiro" que na verdade deveria ser "almoceiro", mas caipiras que éramos, naquela época, nosso sotaque nos impedia de falar corretamente. Para mim, até hoje, com muito orgulho, fui "armoceiro" e ponto. 

O caminho era interessante, belíssimo. Uma trilha de terra feita na grama de tanto passarmos com as bicicletas. Éramos uns quinze meninos fazendo a mesma atividade. Cada qual tinha seus cêrca de oito "armoços" para entregar todos os dias.

Nos encontrávamos no início da trilha e seguíamos em comboio em fila única, já que de um lado, um bambuzal imenso e do outro o trilho do trem. 

Quinze quilômetros de pura diversão e inocência. Paisagem belíssima, som de pássaros, pequenos animais que cruzavam a trilha, pés descalços, única preocupação de chegar com os "armoços" na hora certa.

Entregue as marmitas, enquanto os operários comiam, ficávamos todos na margem do açude pescando. Lambaris, Carás, Mandís, sempre levávamos para casa o que comeríamos no jantar. 

Bons tempos, não sabia nem mesmo quem era o presidente da República. Não tinha preocupações. Vida simples, mas bela. Os anseios eram outros.

Se pudesse? Ah se pudesse, voltaria naquele tempo e ficaria mais tempo com aquelas pessoas, admiraria muito mais aquele bambuzal, esperaria o trem passar para ouvir o maquinista buzinar. Nadaria no açude. Jantaria os Lambaris com muito mais vontade. 

Ah, se eu pudesse... 

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