CADEIRA
DE RODAS
Nerino de Campos
Doutor, não tente me animar. Da bengala ao par de muletas, convenhamos... Estou regredindo; ou melhor, estou evoluindo para a morte. Evoluindo para a vida seria da muleta à bengala, da bengala ao andar descompassado, e deste, ao corpo aprumado. Seria admirar as rugas se desfazendo com o tempo, os espaçados fios de cabelos brancos cedendo lugar a uma vasta cabeleira e as varizes sendo desmanchadas da minha anatomia. Evoluindo para a vida seria sentir os lábios enrijecendo, a arcada dentária se recompondo e o sexo a me conduzir para fantasias alucinantes. Para mim, evoluir, hoje em dia, seria mudar de corpo, de rosto, de gestos, para melhor - ah, se eu pudesse... -, e não, passar a viver na expectativa da mudança do par de muletas para a cadeira de rodas.
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