SE EU PUDESSE ACREDITAR EM ALFREDOS
Bárbara Helena

E se ele trouxesse uma orquídea branca?

E se soubesse fazer cócegas na sua orelha e arrepios na sua espinha?

E se vocês casassem ao som de jazz, no meio do gramado, tendo as árvores por testemunha?

E se fossem pobres como Jó e ele trouxesse no seu aniversário os livros que você mais namorava, encapados com o papel laminado e colorido do carinho?

E se no dia em que seu pai estivesse doente no hospital e você mais triste ainda porque não ia poder comprar o presente que sua filha pedira, ele chamasse você no carro e lá estivessem o pequeno rodo e a vassourinha que iam fazer a alegria da criança amada?

E se quando você fosse pagar a conta no restaurante, o garçom avisasse que o Doutor já pagou e ele olhasse de longe com aquele sorriso torto e você pensasse que ia morrer de alegria e vergonha?

E se você chorasse no telefone, cansada com as mesquinharias da vida, porque várias lâmpadas queimaram e ele mandasse, de surpresa, um mensageiro entregar na sua porta um pacote enorme, cheio de lâmpadas de todos os feitios e tamanhos?

E se quando ele atravessasse a calçada você pensasse, com o coração na boca, que era ao seu encontro que ele vinha com aquele andar em câmera lenta, aquela sensualidade felina, aquele sorriso de febre?

E se ele tocasse contrabaixo só para você? E piano? E mandasse um mensageiro entregar um CD que ouviu na loja e comprou porque era a sua cara e tinha certeza que você ia gostar? E se você gostasse tanto que nunca mais conseguisse deixar de ouvir este CD, mesmo depois que o tempo desbotou o amor?

E se a morte roubasse duas vezes, inesperadamente, os homens da sua história?

Você acreditaria em Alfredos?

E que é a felicidade e não o engano quem bate outra vez na sua porta?

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