PREGUIÇA
DE SONHAR
Míriam Salles
Outro dia acordei cansada depois de um
sonho muito estranho. No sonho eu recebia o telefonema de uma
amiga muito querida e ela chorava baixinho. Impossibilitada de
abraçá-la eu embalava o telefone e curiosamente a sensação
era a de embalá-la. Sentia como se abraçasse sua cabeça e
acarinhasse e isso nos consolava.
Passei o dia me lembrando desse sonho e de outros que tive
recentemente. Nem sempre sonho, em geral durmo pesado depois de
ler umas poucas linhas. As vezes leio um livro inteiro antes de
dormir, principalmente quando o dia foi muito cansativo. Tem
gente que acha que não me canso nunca já que trabalho sentada,
no microcomputador. Quem dera assim fosse...
Canso de teclar, canso de pensar, canso de imaginar. Canso de ler
bobagens, canso de resolver problemas solucionáveis e de tentar
resolver outros que não o são. Canso também de ficar sentada e
as vezes me levanto e dou uma volta no quintal.
Mas o que nunca me enjoa é de olhar o quintal. Fico vendo os
passarinhos, cada vez mais ousados, equilibrando-se na beirada do
prato da cachorra pra comer a sobra da ração. Vejo uma das
gatas se esgueirando sorrateiramente, se preparando para o
"pulo-do-gato" sem reparar na cachorra que vem por
trás. Mas os passarinhos tem olhos nas costas e de repente
levantam vôo deixando cã e gata a ver navios. Ou melhor, pratos
vazios.
Outro dia vi um alma-de-gato. Um sim, não errei no artigo. É um
passarinho com um rabo 3 vezes maior que o corpo que pula de
galho em galho como se rastejasse. Quem vê de longe pensa que é
um gato ou um esquilo.
Mas como eu dizia, nos dias em que durmo pesado eu não sonho.
Isso acontece só quando o dia foi tranquilo, gostoso. Nessas
ocasiões, quando parece que o dia foi uma preparação, eu sonho
colorido.
Mas hoje não. Hoje eu estou com preguiça até de sonhar.
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