ALONSO É UM CARA LEGAL
Lula Moura

- Chega!... Chega!...

Já estava cansado de ouvir o papo daquele cara, sempre a mesma coisa. Reclamava de tudo e de todos. Só falava em dinheiro. E grana alta mesmo, não é aquele básico necessário pra sobrevivência, aquele que às vezes falta até pra comida. Isso ele tinha herdado, e muito. Mas, estava acabando... Trabalhar que é bom, nada. Estudar, talvez. Uma faculdade pra curtir as gatinhas até que não fazia mal a ele. Alonso queria mesmo é dormir e ficar na preguiça pela manhã e à noite cair na gandaia.

Até aí, tudo bem. Mas que cada um arque com as conseqüências de seus atos. E não, ficar alugando os ouvidos de terceiros, com histórias que não enganavam nem mais a própria mãe (e olha que mãe acredita em tudo, e está sempre a favor, não é mesmo?).

O diacho, é que eu gostava do cara. No fundo, lá no fundo, era uma boa pessoa. Generosa, muitas vezes. Contraditório? Paradoxal? Talvez... Humano, eu diria. A vida acostumou erradamente esse meu amigo de infância. Nunca precisou "dar duro". Quando seu pai morreu, sentiu-se num labirinto. Sem saber por onde começar. Meu ombro teve que aturar aquele nariz escorrendo de choro, muitas vezes. Talvez por isso fique por aí a criticar os outros, e reclamar por dinheiro, como se o dinheiro fosse cair do céu. Nessa fase só queria saber de dormir, dormir. Já acordava com sono, e a preguiça ia até a hora do almoço.

Eu dizia pra ele: -Alonso, de sono e preguiça, eu já estou cheio. Quero ver você reagir. Mas não é da morte de seu pai, não. Tô falando da tua, o cara. Da tua...

E ele, com seu bafo de bebida, respondia: -Irmão, não enche meu saco. O mundo que devolva o que me deve (como se fosse assim que a banda tocava)...

-Eu bem que tentei, Dona Luzia, bem que tentei.

Sua mãe me olhava choramingando, mas com ar de quem não vai desistir.

Sorte a dele... No fundo, lá no fundo, é um cara legal. Todos somos...

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