DE SONO, PREGUIÇA E APATIA
Ana Terra

Apatia.

Hoje é sexta-feira. A semana passou e eu não vi. Só neste instante me dei conta disso.
Acho que morri um pouco nestes dias. Meu corpo que não me deixou acabar de uma vez. Ele me exigiu alimentos, higiene, cuidados. Eu o atendi para que ele me deixasse em paz e me permitisse dormir.

Parece que vaguei em outra dimensão nestes dias. Fiz o que tinha que ser feito, mas não vivi. Só me lembro de uma ida ao supermercado (exigência do corpo) onde vi senhoras discutirem calorosamente o preço do sabão em pó. Olhei nos olhos delas e vi alienação, fuga inconsciente.

Minha fábrica de ilusões foi lacrada. Está dormente. Não dá um sinal de vida. E sem elas é impossível viver.

Fui cavando um poço. Devagar Dia após dia ele foi se aprofundando e me encolhi. Dormi. Como dormi! Houve momentos em que não sabia se era dia ou noite. Precisei olhar no relógio várias vezes para me certificar que não tinha perdido o ritmo das horas.

Este horário de verão que não suporto. Noite que não chega nunca. Por isso, fiz noite em minha casa.

E dormi. Um sono sem sonhos. Fuga.

Estou cansada. Quando penso que estou chegando lá, a estrada acaba. E não há placa de sinalização. Não tenho forças para a marcha-ré e procurar outro caminho.

Minhas energias ficaram lacradas junto com as ilusões. Só meu peito não entendeu isso. Provoca contrações que me incomodam. E o incomodam também. Por isso o sono.

Antes eu nunca tivesse conhecido o êxtase, a magia. Assim, eu me sentiria realizada em ficar revoltada com o preço do sabão em pó.

Apatia. Irmã da simpatia, empatia e antipatia. Você já teve sua semana. Dê um espaço às outras, por favor.

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