NAS CAMPINAS SECAS DO SERTÃO
Alice

Januário tirava uma soneca na sombra do juazeiro,quando a esposa Gorete chegou com o almoço.

- Drumino de novo januaro? Gritou.

- Ara, ce demoro, num ta veno o sol pra riba do meio não muié?

Falou sem tirar o chapeu de palha, que lhe cobria o rosto.

Ela suspirou e sentou-se no chão de terra seca ao lado do marido, abriu o bornal de couro de vaca,tirou de dentro um saco de pano contendo farofa com torresmo, e uma tora de rapadura, entregou para ele, que acabava de recostar-se no tronco escuro e aspero da arvore.

- Janú, oce prometeu que nois ia morar na cidade, que trabaiaria de sol a sol, para isso, oce me ingano. Disse ela com os olhos lacrimosos.

- Que é isso minha galinha da campina, intão num to cumprino a promessa? Oia só essa roça, que beleza, pena que num chove, se não ce ia ver a belezura dos pé de mio, de feijão...

Gorete olhou a plantação, o que tinha de verde era as ervas daninhas que sobreviviam, não se sabe como, a longos anos de seca. Em três anos de casados, eles ainda não tinham colhido nenhuma espiga de milho da própria plantação. O que tinham para comer vinha dos pais deles. O marido não era chegado no trabalho, dormia cedo, acordava tarde. Pensava ela com tristeza, como sair dalí um dia?

Ele reclamava do calor,do sol causticante, de cansaço eterno. Os vizinhos no ano anterior, tinham tirado boa safra, mesmo com pouca chuva, e eles nada.

Ela cansada de brigar com a preguiça do marido, tinha desistido, criava galinha e alguns porcos que ela vendia por preço irrisório, quando precisavam de dinheiro.

De Tardezinha ele chegava, com cara de sono e cansado de dormir no chão duro na sombra da arvore.

Ela trazia a água, ele se lavava e se espichava na rede armada na pequena varanda da casinha de barro.Enquanto isso ela preparava o jantar na cozinha que também era sala e dormitório. Naquela noite o jantar era especial, feijão com orelhas de porco e farofa de torresmo.

Jantaram como sempre em silêncio, após o jantar ele voltou para a rede, a espera dela como fazia todas as noites, Gorete se demorava.

Ele com sua voz cansada chamou. - Vem minha siriema de perna curta, vem fazer um chamego no seu siriemão de perna cumprida...

Ela se aproximou, não queria nada naquela noite, estava cansada, negociara uns porcos durante a tarde com um mascate, tinha outros pensamentos. Porém resolveu fazer-lhe umas perguntas, que nunca ousara fazer antes.

- Janú, oce num gosta de mim? num gosta de se deitar cumigo? de fazer aquelas coisa? Oce drome assim que cumeça a ficar bom nosso chamego. Nois ainda num tem fio, eu já to passano da hora de ser mãe.

- Ué? mas oce num tem seus porco e suas galinha minha franguinha, pra que mais trabaio cum criança? Despois ce pensa que é fácil fazer fio? Requer muito esforço, a muié só abre as perna, num faz força, fica no bem bão, pensa neu, ter de ficar ali suando, é muito bom mas cansa por demais, despois esse trabaio de roça é muito cansativo.

- Intão nunca vo ter fio seu Janú? Vo ser sempre como aquele Juazeiro que oce fica a vida toda embaixo dele, drumino? Pois oia aqui, eu vo simbora, adeus. E foi deitar-se na sua rede.

- Vá não home, sem oce como vou viver, minha cabritinha ajeitada?

- Viva de sono e de preguiça, seu... seu... tropero mal arrumado. Respondeu já sabendo o que ia fazer no dia seguinte.

No outro dia, bem cedo, Gorete seguia juntamente com o mascate e os porcos que havia vendido, toda feliz, rumo a tão sonhada cidade. Januário continuava dormindo, dias depois ainda pensava um dia criar forças e trazer de volta sua Galinha da campina. Enquanto isso, continuaria tirando sua soneca embaixo do juazeiro, esperando a mãe que viria trazer seu almoço preferido, Farofa de torresmo com rapadura.

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