MEDALHAS E TROFÉUS
Ivone Carvalho

Ela é brilhante! Desde criança demonstrava sua esperteza, sua inteligência, seu perfeccionismo, sua garra, enfim, sua necessidade de estar sempre na frente, planejando o futuro, sonhando grande, buscando comparações somente naqueles que poderiam ser exemplos de sucesso e realização.

Com seus parcos seis anos de idade, viajava mentalmente visualizando-se nos jogos olímpicos disputando a medalha de ouro que, ela sonhava, seria dela. Foi assim que iniciou os seus treinos de ginástica olímpica conquistando, então, muitas medalhas. Dois anos depois, ao perder pela vez primeira um campeonato, após ganhar uma simples medalha de prata, ela desistiu do sonho de ir às Olimpíadas. A medalha dela tinha que ser a de ouro e ela não deixava por menos!

Aos onze anos, quando participava de todas as equipes de todos os esportes que se praticava no colégio, lá foi ela, em busca da realização de um novo sonho: o voleibol. Após infindáveis testes num grande clube, passou a pertencer à equipe feminina da sua faixa etária. Era delicioso ver a sua dedicação ao novo esporte. Brilhava tal como brilhara nos tempos da ginástica olímpica, embora, desta feita, escolhera uma modalidade esportiva que se apresentava em equipe.

Mais uma vez seus sonhos não se realizariam. Ao completar quinze anos, devido a uma regra que modificava a classificação das faixas etárias, não tinha mais como continuar treinando no seu clube e, ao deixá-lo, abandonou novamente o sonho de participar das Olimpíadas.

Porém ela nunca abandonou o esporte. Não poderia. Isso está no sangue dela!

E, concluída a fase de adolescência, agora mulher, profissional, embora conservando muitas características da menina, ela já conquistou os primeiros troféus do campeonato brasileiro da arte marcial a que passou a se dedicar.

Ela vai chegar lá! Ainda trará títulos para o Brasil, concretizando seus sonhos de criança, não tenho nenhuma dúvida sobre isso.

A única pergunta que sempre lhe faço quando conversamos sobre tudo isso que acabei de relatar e que, claro, ela não suporta ouvir é esta:

- Como pode, minha filha, você tendo passado toda sua vida sujeita a todas as disciplinas rígidas que um atleta deve obedecer, conseguir manter o seu quarto assim, tão desorganizado e desarrumado?

E a resposta dela é sempre a mesma:

- Mãe, quando vou arrumar o meu quarto, a hora voa, não vejo o tempo passar! Fico ali o tempo todo fazendo não sei quê...

É, essa coisa de disciplina e perfeccionismo funciona pra ela no esporte, mas não dentro de casa!

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