ESSA
ANGÚSTIA,
ESSA MELANCOLIA,
ESSE NÃO SEI QUÊ
Carlos de Paula
Complicado, amor, complicado. Você veja bem, ninguém conseguiria entender isso, não, nem monge budista, nem mago, nem bruxa, nem alquimista. Repare que você tem praticamente tudo para ser feliz, família joinha, amante que te curte e de quem você gosta muito, talentos sempre renovados, amigos que te babujam de tanto que te mimam, um mundo sem fim de possibilidades, de alternativas ocupacionais e, é claro, etc., porque sem etcetera nada seria completo.
Agora, fica você com essa lamúria, esse choramingo que é chato, eu te amo, mas é chato p´ra cacete, tenho que dizer, é forçoso, que é que posso fazer, se só sei ser eu? Fica dando nos nervos da gente, olhando triste para um lugar qualquer onde não está o que você quer, o que você quer está em você mesma, você sabe disso, não é possível que eu tenha que ficar te lembrando o tempo todo de uma verdade tão absoluta.
E a gente fica de longe se consumindo, afinal, que porra é essa que essa mulher quer, meu São Crispim das Pacas Desconsoladas? Como é que se ajuda quem parece não querer ajuda, quer só é reclamar, chorar, lamentar e ver a gente balançando a cabeça desse jeito, que nem os tais dos burrinhos de presépio que mamãe tanto citava? Alguém que quer colo, mas ao mesmo tempo deita indecisa no colo, se levanta abruptamente, parece que traz um vazio no coração e joga esse bagulho no da gente, quando a plenitude era o que se anunciava, como é que fica um homem diante de um absurdo desses?
Sinceramente, meu amor, você precisa parar com essa merda, que eu não tenho mais idade p´ra ser contaminado assim, p´ra ficar angustiado dessa maneira com sua tristeza, p´ra sufocar com esse não sei quê entalado no peito que você me deixou e, sei lá, mas algo tem que ser feito e tem que ser feito é por você.
Porque, com franqueza, minha mulherzinha querida, nem monge budista entende um troço desses.
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