QUÊ! QUÁ, QUÁ, QUÁ
Antonio L. C. Geremias

12 quilômetros. 12. O tempo em que andar 12 quilômetros a pé era nada demais já passou. Hoje, 12 quilômetros, não existe essa possibilidade. Pergunte a quem mora em São Paulo, Fortaleza. Classe média. 12 quilômetros. O cara nem tem noção do que é isso. Nem anda a pé, no máximo até a padaria. Correr. Até corre 20. Na academia, na esteira, no Ibirapuera, numa pista qualquer. Mas, andar? Nem fudendo. Peça pro sarado andar 12. É um absurdo, ele tem a impressão de que o julgam um sem-carro, um despossuído de motor. Não anda.

Então, eu aqui, andando o décimo quilômetro, já tô na injúria. Porque a única razão que eu tenho é a grana, a falta dela, porque quem quer andar essa quilometraiada toda? Ninguém, zé mané, não tem conversa de saúde e exercício, isso só vale pra quando o carro tá na vaga do estacionamento, ou a grana do táxi tá no bolso, esse papo de saúde. Por necessidade, a gente continua fraco. Nem sei quê papo é esse.

Então, nem vem com conversinha. Ó, eu sô do bem, contra o Laden, aquele terrorista de merda, contra o Bush, já militei no trotskismo, e tô cagando pras suas conversas de como a gente deve ser. Depois que cê ficar esperto e cuidar da sua vida, e não sua mulher te sustentar, vem falar comigo, que eu não agüento mais conversinha. Qualé?

Você não consegue nem buscar uma peteca, ou bolsa de dez ali, no bar da esquina, você precisa que alguém faça isso por você e tem o maior desprezo por traficante e avião, e não sabe de nada, seu merdinha. Não tem manha nenhuma, não tem prática, é inseguro e um risco, vai pra cana e leva a gente junto, trouxa.

Então, que garganta é essa de 12? Eu ando mais que isso, mas ai não é exercício, né, é necessidade? Mais tá certo, porque pobre morre, embora seja o tipo mais exercizado do mundo. Anda pra caralho a pé, corre pra pegar o ônibus, se mata de levantar o peso, os caxote, as viga, mil de tijolo. Mais morre, né, de infarto, de trombose, tudo isso. Por que? Muito óleo, churrasquinho de gato. De gato o caralho, porque é de carne, talvez não a sua carne, mas carne de verdade, limpa e honesta.

Então, nem me pertuba, tá. Que a minha paciência acabou. Não agüento mais esse papo de gente que sabe o jeito certo de ser, de fazer as coisas. Vai pra casa.

fale com o autor

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.