CORRESPONDÊNCIA
Alberto Carmo
O carteiro deixou a carta na caixinha, tocou a campainha e continuou as entregas. Ela acompanhou atrás da cortina - há dois anos não recebia nada, a não ser malas-diretas, propaganda, contas.
Mas hoje foi um envelope - via aérea. Um rodamoinho azedo veio-lhe aos olhos. Podia ser nada, podia ser tudo. Esperou a pressa se acalmar num gole de café forte. Desceria, claro. E desceu, degrau por degrau, como se voltasse o calendário.
Abriu a caixa e enfiou a mão. O papel era macio, trazia um selo. Apalpou em braile a caligrafia e mordeu os lábios.
- O que quer de mim? - resmungou. Os dedos já grudavam ao suor frio. Há quanto tempo não suava assim? Desde aquele dia em que...
Amassou o envelope e atirou longe. Deu de ombros e subiu de volta, faceira.
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