CIDADÃO
CÁFTEN
Ubirajara Varela
Aos poucos a polícia está perdendo a
credibilidade. Tantas denúncias de corrupção, de que a
corporação está corrompida, desgastada, quase se
desmantelando. Virou tema de deboche na mídia. A bola da vez
agora é do ladrão. Como dissera Chico Buarque - Chama o
ladrão! - porque a polícia vem.
Eu mesmo não abro: fico com João Cáften, parceiro do saudoso
Charles Anjo 45. O nosso grande benfeitor do Buraco Quente. O rei
das moças de vestido de chita.
João Cáften, cujo nome a profissão lhe emprestara, crescera
ali mesmo, órfão de pai, cheio de mães. Muitas idéias, muita
ação, cedo se tornara um empresário de ponta (ainda que a sua
matéria-prima seja uma das mais antigas do mundo), agenciando
trocas de favores. E sua iniciativa é de vanguarda também, por
se aliar à comunidade, colocando-se na luta contra as
injustiças sociais do lugar e trazendo o desenvolvimento e a
prosperidade. Na verdade, sem demagogia, devolvendo ao povo o que
lhe foi tirado. Aquilo que a polícia e os políticos não deram,
não dão e talvez nunca darão.
E não foram poucos os benefícios que trouxera para o morro, o
rei João: luz elétrica, saneamento, empregos, escola e creche,
crianças fora do ócio que conduz à marginália, cestas
básicas, posto de saúde, além do entretenimento, a principal
fonte de recursos e verbas. Ainda, promovera diálogo entre a
comunidade e os constituintes de forma nunca vista antes, graças
a sua clientela, homens ricos, de destaque e atuação no poder
público. Gente graúda.
Sempre intervindo pela causa dos mais fracos, João foi
aumentando a popularidade, e já até pensa em candidatar-se a um
cargo público qualquer este ano. Talvez Secretário do
Desenvolvimento. E porque não? Afinal tem tanto ladrão no
comando que não faz nada. Tentemos, agora, um malandro de
princípios. (Se algum partido aceitá-lo, claro. Coisa nada
difícil de conseguir, tendo tanta gente sob sua tutela, e de
rabo preso. Até o delegado local é seu cliente assíduo. E
João conhece segredos suficientes de todos os seus favorecidos.)
Meios ele tem. Então...
Para presidente, o proxeneta! O rei das moças de vestido de
chita, o Cidadão Cáften, nem primeiro, nem único.
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