XEQUE MATE
Sandra Costa
Xeque. Esta foi a palavra que
retumbou em minha cabeça quando ouvi aquilo:
- Preciso de um tempo. Estou me sentindo infeliz e não acho isto
justo nem para mim nem para você. Respondi distraidamente:
-Anhnnn???
- Isto mesmo que você ouviu. Estou saindo. Preciso pensar e
quero estar sozinho, por isto preciso de um tempo.
Tempo???? Minha cabeça rodava e não parava de soar... Xeque...
xeque... xeque... Não acreditava no que estava ouvindo. A
partida já durava muito, quase vinte anos, as jogadas já eram
conhecidas, os erros já eram compreendidos, os acertos
comemorados, aí de repente uma virada no jogo, e aquele, que
julgava ser meu rei, bateu em retirada.
Comecei a pensar. Já tinha perdido muitas peças. Quase todos os
peões foram há uns quinze anos, quando com aquela voz tão doce
ele me disse:
-Amor, você não acha melhor parar de trabalhar para cuidar das
crianças? Você terá mais tempo para elas e sabe como é, a
presença da mãe é indispensável para o crescimento saudável
dos filhos.
Concordei, afinal não queria ser responsabilizada no futuro por
problemas emocionais que meus filhos viessem a ter por carência
materna.
Perdi as torres quando minhas amigas foram distanciando-se porque
minha presença era indispensável em casa tornando qualquer
programa feminino algo inimaginável.
Comecei a rever minha vida e vi que tudo não passara de um jogo.
E naquele momento eu estava perdendo.
Restavam-me agora dois cavalos e um bispo. Ou seja, força,
coragem, trabalho e muita reza.
Comecei a planejar. Precisava de estratégias. Voltar a estudar,
conseguir um trabalho, reatar antigas amizades e fazer novas...
enfim viver. Um sopro de vida começou a brotar em mim. O simples
planejamento já encheu minha alma, quando parti para a
execução comecei a sentir a vida fluir dentro de mim.
O tempo foi passando e percebi que há muitos anos não me sentia
tão feliz como neste momento. Não era mais a rainha do lar, mas
a rainha da minha vida.
Nesta época, encontrei com ele, afinal tínhamos muitas
questões práticas a resolver. Olhou-me como se não me
conhecesse e convidou-me para jantar para que pudéssemos
conversar melhor. Aceitei.
Levou-me a um romântico restaurante e começou a falar, com
aquela voz doce que eu tão bem conhecia, que estava infeliz,
sentindo-se sozinho e que pode perceber o quanto eu fazia falta
na vida dele. Queria voltar.
Senti uma alegria interior, minha vida toda passou por minha
cabeça naquele momento e me senti vitoriosa. Disse a ele: Xeque
mate, meu amor. Como dizia minha avó: Rei morto, rei posto.
Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.