R.E.I.
Rodrigo Stulzer Lopes
Rápida Exterminadora de Insetos; era o
que se lia no cartão. Começara pequena, como toda empresa, e
expandiu-se como um enxame nos primeiros anos do novo século
devido à praga de Dengue que assolou o país. Teobaldo Carneiro,
fundador e principal gerente de operações, comandava com
mão-de-ferro os serviços. De uma simples fumegação em uma
residência até a dedetização completa de Copacabana - agora
infestada de ratos e baratas - Teobaldo queria saber todos os
detalhes, especialmente qual tipo de veneno tinha sido usado e
como foi a morte dos insetos.
Ainda hoje, em casos especiais, o Sr. Carneiro chefiava
pessoalmente algumas operações. Vestia o mesmo macacão (uma
cópia, na verdade) que usava quando sua empresa tinha somente um
empregado, ele mesmo. De um laranja gritante, com as iniciais REI
nas costas ele era identificado a quadras de distância. Esse era
uma das maneiras que Teobaldo achou para fazer propaganda de sua
empresa. "Matar insetos qualquer um mata, mas com
eficiência, somente a REI", dizia para seus clientes.
O caso da invasão de baratas no prédio do MASP foi um dos que
Teobaldo tomou a frente de batalha. A televisão mostrava uma
cena horrenda; toda a estrutura de sustentação, pintada de
vermelho, para realçar aquele maravilhosa obra de engenharia
estava agora marrom. Milhões de baratas grudaram-se nas colunas;
especialistas diziam que o culpado era uma nova tinta
fosforescente que a Prefeitura tinha gastado uma fortuna para
pintar.
Teobaldo e seu batalhão - cento e oitenta rapazes e moças - com
seus uniformes cor de laranja e Fumegadores Subatômicos
posicionaram-se a poucas quadras dali. A desculpa era que o
equipamento era muito sensível e precisava ser ajustado. Na
verdade era mais uma ótima jogada de marketing de Teobaldo;
conseguiu audiência nacional com seu exército parando
completamente a Avenida Paulista por cerca de duas horas. As
câmeras de televisão acompanhavam aquela marcha dos
Exterminadores de Insetos pelas quadras que os separavam do MASP.
Não era por acaso que treinavam técnicas militares antes de
receberem suas primeiras missões.
A investida foi com carga total. Os Fumegadores descarregaram uma
mistura do Composto Y, desenvolvido pelo próprio Teobaldo, na
infância da R.E.I; ele consistia atualmente de inutilizadores de
mitocôndrias e o veículo de transporte do produto era uma
mistura de gelo seco e corantes; "Para dar um ar
dramático", dizia Teobaldo. Nesta ocasião ele já havia
sido condecorado com algumas das mais importantes comendas do
Marketing Moderno. No caso do MASP ele escolheu não utilizar
corantes pois queria relembrar a nostalgia dos grandes incêndios
do século XX, agora eliminados por causa dos novos materias
sintéticos anti-chamas.
Eram 08:27h da manhã quando adentraram no museu. A cena lembrava
um velho filme de sua infância, onde um aventureiro na Segunda
Guerra Mundial caía num salão infestado de cobras de todos os
tipos. As baratas cobriam o chão com uma profundidade de pelo
menos 30 centímetros e não se distinguia teto de paredes pois
estes também estavam tomados pelos seres marrons. A uma ordem,
dada através do intercomunicador de seu capacete, Teobaldo
coordenou a ação: formaram-se grupos de vinte Exterminadores
espalhando-se por todo andar térreo. Os disparos uniram-se num
anel de energia, concentrando-se inicialmente no aparelho
respiratório das baratas e em seguida derretendo-as de fora pra
dentro. O cheiro do Composto Y misturado com o corpo em
decomposição dos insetos tomou conta do museu. Teobaldo saiu
triunfante pela entrada principal, o gelo seco contrastava com
seu uniforme laranja. A fala, firme para a sua idade, seguiu-se
depois de inspiração profunda:
- Adoro o cheiro do Composto Y pela manhã, lembra-me meus tempos
de batalha, no levante do Sul do país.
- E agora, Sr. Teobaldo, qual será a sua nova investida? - disse
um reporter.
- Agora estarei ajudando o futuro do país. Vou tomar o lugar dos
vermes do Planalto!
E Teobaldo concorreu à Presidência da República usando como
plataforma de governo a eliminação dos vermes, das sangue-sugas
e das cobras, do governo. Em todas as fotos de campanha aparecia
com o Fumegador Subatômico e um terno alaranjado.
Ganhou a eleição com setenta e oito por cento dos votos. Morreu
anos mais tarde sendo aclamando o melhor presidente que o país
já tivera.
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