CONVENÇÃO DOS REIS
Priscila de Moura Antunes
Numa terra onde reinam diversos
reis, existia um Rei dos Reis - que não era Nosso Senhor Jesus
Cristo, pois tinha coisas mais importantes a fazer. Entretanto,
tal rei foi deposto de seu trono, Supla o Rei dos Piores Clipes
do Mundo havia perdido a sua Majestade agora que se tornara o Rei
da Mídia, pois segundo o Conselho Monárquico, e um golpe de
estado liderado pelo Rei do Tabuleiro de Xadrez, estava com
muitos afazeres, o que foi um alívio para Supla, pois tinha ele
agora finalmente alcançado o apogeu, depois de tantos anos de
batalha.
Decidiram então os membros do Conselho Monárquico a realizar
uma Convenção, para que os demais reis pudessem através de uma
eleição democrática eleger seu novo soberano.
O Rei Arthur, que sempre foi favorável às festas, cedeu
gentilmente os salões do Castelo de Avalon para que todos se
reunissem; primeiramente o Conselho, para elaborar a ordem dos
acontecimentos. Estavam então à Távola Redonda, os membros:
Rei de Paus, representando a Corte das Cartas, O astro-rei Sol,
representando a Corte Astronômica, Rei Lear, representando a
Corte Literária, Elvis Presley, representando a Corte Musical -
já que recentemente o Rei do Baião, havia lhe passado o seu
Reinado por motivos pessoais - e não podia faltar ele, Zeus, o
Rei dos Deuses, que tentava uma maneira de cancelar tal
eleição, pois se considerava digno e merecedor do cargo, uma
vez que havia perdido as últimas eleições para Supla na
sucessão de Lampião o Rei do Cangaço, que reinava absoluto há
décadas, pois não havia um Rei sequer, nem mesmo Zeus, que
ousasse desafiá-lo, até que Supla emergiu com toda robustez,
aclamado por monarcas e plebeus. Não lhe restou outra saída,
viajar com Maria Bonita pelo mundo, que há tempos vinha
reivindicando uma folga de suas atribuições, pois como todos
sabem, era a própria que ficava com o trabalho pesado, e quem
levava os louros...
Depois de muito discutir, resolveram que deviam se candidatar:
Rei Momo, que tentava aproveitar-se de sua atual popularidade,
por ter brilhado recentemente no Carnaval do Brasil, John Lennon,
integrante dos reis do iêiêiê, que dispensa comentários, e
Rei Tut, o famoso Tutancamon.
Apresentadas as plataformas de governo, os eleitores refletiam
sobre o que poderia ser melhor para tal terra distante: os gritos
carnavalescos regados à cerveja, confete e serpentina que
durariam praticamente o ano todo, músicas insignes e liberdade
de expressão que jamais teriam experimentado ou festas das mil e
uma noites com odaliscas enfeitiçando a todos. Quando de
repente, o reino se surpreendeu com uma revolta articulada na
calada da noite: As Rainhas, cansadas de entregar de bandeja
aqueles louros de Maria Bonita, viraram o jogo e lançaram um
cheque-mate assumiram o poder. As notícias em todos os jornais
abalaram o reino: REVIRAVOLTA NAS ELEIÇÕES - YOKO ONO LIDERA
TRUPE, SERÁ QUE AGORA ELA CONSEGUE?
O apoio à liderança das rainhas foi geral, mas apesar da
imunidade adquirida ao longo do processo de eliminação pelo
voto popular, Yoko não foi a escolhida pela maioria no final das
eleições. Ela, Chiquinha Gonzaga, precursora como sempre, abriu
alas com a astúcia de um estrategista de guerra, convenceu a
opinião pública e reina absoluta e majestosa.
E foi assim, que em 8 de março de um ano qualquer, que o Reino
dos Reis, tornou-se o REINO DAS RAINHAS.
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