COMÉRCIO
INTELIGENTE
Maurício Cintrão
Eu invejo o lojista que acorda cedo,
enfrenta os impostos, as altas de preços, os intermediários
inescrupulosos, os juros escorchantes e os bandidos. Eu invejo
essa gente corajosa que produz desenvolvimento em silêncio e
apesar do próprio País. Eu invejo os lojistas pois são
empreendedores de sonhos, realizadores de conforto.
Não tenho a mínima competência para o comércio. Não sei
fazer negócios. Mas tenho certeza que nossa vida seria bem mais
difícil se o comércio varejista não tivesse alcançado o grau
de sofisticação dos dias de hoje. Há exceções, é claro.
Mas, na média, os lojistas de hoje permitiram a reedição da
singeleza do relacionamento de freguesia que eu conheci quando
menino.
Adoro entrar em uma loja e ser tratado com a gentileza de um
antigo cliente. Não importa se é a primeira vez que entro
naquele lugar. Se o sorriso do balconista se mantiver mesmo que
eu não compre, é 50% da compra que vou fazer na próxima vez.
Porque eu volto a lojas que me tratam assim, eu sempre volto.
Mesmo que seja para comprar o que não preciso.
Como a maioria dos homens, não gosto de perder tempo em compras.
Penso o que quero, escolho as lojas onde procurar e saio a campo
para realizar o mais rápido possível a tarefa. Essa é uma das
grandes diferenças que tenho com as mulheres. Elas brilham
namorando vitrines. Eu brilho observando as mulheres que olham
vitrines. Mas compro sem olhar muito para mulheres ou vitrines,
sem brilho.
Quem faz essa tarefa se tornar mais agradável é o lojista. Não
importa se alguns cheques voltaram ou se aquela prateleira
precisa ser trocada. Lojista competente é aquele que faz com que
eu me sinta em casa. Gosto de me sentir um rei modesto, daqueles
que não faz tanta questão de pompas e circunstâncias, mas que
não perde a realeza.
Pelo menos enquanto compro, reino. Pois o momento de presentear
é real. E o escolher presentes me torna o dono do mundo. Sou um
rei que busca encantar rainhas, princesas, príncipes e
cavaleiros de meu reinado. Sou o soberano da surpresa com que
pretendo alegrar a quem amo.
Eu invejo os lojistas por causa disso. Não importam as
malcriações dos clientes ou os contratempos com cleptomaníacos
e estelionatários. A possibilidade de conquistar um comprador
que volte mais vezes é a mágica dos bons lojistas. É assim que
transformam até um pobre plebeu como eu em majestade.
Para o bom lojista, todo cliente é rei. Para o bom cliente, todo
o lojista competente merece vida eterna. Vida longa ao Rei!
Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.