UM CONTO DE
REIS
Flora Rodrigues
O rei sempre foi uma figura mágica. Quantos de nós não crescemos a ouvir histórias de reis, dos seus grandes feitos e por vezes também das grandes barbaridades e atrocidades por eles cometidas. Mas em muitas das histórias os reis são símbolos. Símbolos de Justiça, de Humildade, de Vaidade, de Ambição. Senão vejam só. O rei Salomão é recordado como símbolo de Justiça. Quem não se lembra da passagem em que duas supostas mães disputam uma criança e ele tem que tomar uma decisão. Foi preciso coragem e sabedoria para dizer algo como Cortem-na ao meio e dêem metade a cada uma. De facto o rei Salomão sabia que uma mãe verdadeira preferia perder o seu filho vivo a vê-lo morrer diante dos seus olhos e não se enganou. Enquanto a impostora ficou calada, esta implorou que parassem. Cada vez que me lembro desta história fico com a certeza que ser Rei não deve ser fácil. E quem não se lembra da famosa história O rei vai nu!, em que o Rei, com a sua desmedida vaidade, se deixa vigarizar por dois artesãos, que dizem fabricar um magnífico pano, visto só pelos mais inteligentes (que não existia é claro!), acaba a desfilar nu pela cidade! E por falar em Vaidade, acho que esta é parente da ambição, e melhor símbolo para a ambição do que o Rei Midas eu não conheço. Acho que já toda a gente ouviu falar, mas para o caso de alguém estar esquecido ou desconhecer, Midas é o rei que pediu que as suas mãos transformassem tudo o que tocava em ouro. O resultado foi triste, ele próprio se transformou em ouro. Mas nem todos os Reis são tão soberbos ou ambiciosos. História interessante é a do Rei Canuto, que o povo venerava como se fosse um Deus. Cansado de ser visto como alguém que não era, decidiu prová-lo ao povo. Instalou o seu trono numa praia e convidou o povo a visitá-lo. Esperou que a maré subisse até que a água lhe alcançasse os joelhos. Quando a água o alcançou ele disse para o povo que não era nenhum deus, era um homem como outro qualquer ou teria tido o poder de mandar parar a maré de subir. Não me lembro o fim da história, mas gostei dessa parte. Eu recordo o rei Canuto como símbolo de Humildade. Há ainda a história de um rei que decidiu dar uma lição aos seus conselheiros e combinou com um aldeão uma série de perguntas que nenhum dos Conselheiros conseguiu responder. Desta forma o rei conseguiu que se tornassem mais humildes. E podia continuar a contar histórias de reis, porque gosto de histórias de reis. Histórias de reis que sempre acabam por se tornar símbolo de algum ensinamento importante. Sei que normalmente aos reis se associa o poder, a vida faustosa e luxuosa, mas quantas das vezes nos esquecemos que acima de tudo, eles são pessoas como nós, com as virtudes e fraquezas. É nessas ocasiões que sempre me vem à mente um conto de reis.
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