É BOM SER REI!
Fábio Luiz

Assim dizia Mel Brooks em uma de suas incríveis comédias de época. Não é o caso em questão, tendo em vista que a frase ouvida por mim foi um tanto quanto diferente. Ela veio em resposta à velha indagação feita a uma criança sobre suas aspirações. A resposta foi direta, cheia de poder e impostação: "Quero ser rei!".

Como não tenho conhecimento de um curso de graduação em realeza, fiquei a matutar sobre o tema. Quais são as prerrogativas para o infante aspirante a digna e, por que não dizer, real profissão?

Linhagem. Se depender do nome de família nos dias de hoje não irá ajudar horrores.

Ambição. Galgar o Olimpo para obter o cetro do poder. Deve-se pensar em, provavelmente, uma previdência privada razoável.

Missão ou ideal. Algo nobre. Ganhar a copa do mundo por exemplo, ou erradicar a epidemia da dengue ou AIDS, não necessariamente nessa ordem. Tudo isso sendo explicado ao povo em horário nobre em cadeia nacional, sem atrapalhar a programação da Globo, é claro.

Tesouro real. Através de impostos, taxas, Show do Milhão, megasena etc.

A Rainha não pode ser esquecida. Ela é de suma importância. A companheira, "Alma Gêmea", até que a morte os separe. Ou incompatibilidade de gênios. Ela pode, também, mandar cortar cabeças.

Diplomacia. Afinal, amigos por perto e inimigos mais perto ainda. Os que vêm a Pasárgada quando virem o Rei em boa situação e se declarando amigos fiéis não serão poucos. Em alguns momentos podemos fazer visitas aos reinos vizinhos mas, sem abandonar demais o reino.

Determinação. Percalços serão comuns. Traições, mágoas, decepções, contas a pagar, cartão de crédito.

O Castelo. Bem situado. Financiado a perder de vista pela Caixa. A távola redonda pode ser em vezes nas Lojas Marabrás.

Cavaleiros. Seu ministério leal. Definido com convocações na sexta-feira para um joguinho até se encontrar a esquadra certa ou incerta.

Tempo de reinado. Ser chamado de "Meu Rei!" pode durar anos. Talvez o tempo de um feriado prolongado em Porto Seguro quando ao final voltamos a plebe pois não há mais ninguém para nos saudar.

A lista ia ficando enorme, quando o infante demonstra sinal de sono e deve ser carregado aos seus aposentos reais. Após niná-lo com estórias melhores que nossa própria realidade, voltei aos meus pensamentos loucos. As prerrogativas são praticamente iguais as de qualquer ser humano que quer o melhor para si e aos seus.

Nosso reino ainda é o do destino que criamos. Que nos sentamos diariamente a cuidar em nossos tronos, suados, cansados, adorados.

fale com o autor

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.