A PRINCESA TRISTE
Aline Toledo

- Era uma vez, uma princesa triste...

- Por que ela era triste? Não era uma princesa? Princesas não são sempre muito ricas e bonitas?

- Sim. De fato, ela era muito rica e ainda mais bonita do que rica. Mas era triste porque, apesar de bela e rica, era solitária. Os poucos amigos, os muitos pretendentes, os inúmeros criados, todos que a rodeavam aproximavam-se dela porque era rica e bonita. Essa, pelo menos, era a sensação da princesa. Mas havia uma pessoa, apenas uma pessoa, que a princesa tinha certeza de que a amava do fundo do coração...

- Era o seu príncipe encantado?

- Não, era o rei, seu pai. A princesinha também amava muito seu pai e, um dia, em suas orações, pediu que Deus fizesse chegar ao castelo um rapaz que a amasse tanto quanto seu pai, da mesma forma que ele. Deus respondeu que isso era impossível porque o amor do rei era o maior que havia no mundo e inigualável.

- Nossa, que bonito!

- Mas a princesa não gostou da resposta e, insatisfeita, pediu a Deus que lhe trouxesse um príncipe que gostasse muito dela, embora não tanto quanto seu pai. Deus concordou e, anos mais tarde, chegou ao palácio o mais belo príncipe já visto em toda a Terra.

- E eles se apaixonaram assim que se viram, não foi?

- Não, ele se encantou com ela e fez de tudo para conquistá-la.

- E conseguiu?

- Bem, ela se casou com o príncipe tempos depois e levava uma vida muito boa, mas, no fundo, sentia um vazio muito grande.

- Por quê?

- Por que ela achava que faltava algo em seu casamento e somente se o príncipe a amasse mais do que todos na Terra, inclusive mais do que seu pai, ela seria feliz. Então, a princesa pediu isso a Deus. O pai não sabia de nada, mas, embora muito velho, percebia que algo havia mudado em sua filha. Certo dia, quando os três foram passear de barco, houve um imprevisto e a embarcação virou em meio a uma forte tempestade. A moça era a única que não sabia nadar. Seu pai e o príncipe fizeram de tudo para salvá-la, mas já estava escurecendo e eles já não tinham mais tanta esperança. O pai, então, decidiu ficar com a filha em alto-mar enquanto o marido tentaria chegar à praia e buscar auxílio. Foram horas aparentemente intermináveis para os três. Finalmente, quando o príncipe conseguiu se salvar e enviar ajuda, a princesa, quase desmaiada, não entendia mais o que estava acontecendo. Por fim, ao acordar, percebeu que estava em sua luxuosa cama e o príncipe estava a seu lado, incansável. Quando ela perguntou por seu pai, não obteve resposta. Desesperada, suplicou que o marido lhe contasse a verdade. Ele disse que conversaria com ela depois e saiu do quarto. A princesa orou a Deus com toda sua fé, pedindo pela vida de seu pai, mas Deus lhe respondeu que havia atendido seu pedido e o príncipe era agora o homem que mais a amava na Terra ...

- Que triste, mamãe!

A mãe, então, respondeu à filha com uma frase que ela nem sabia mais onde havia lido ou ouvido pela primeira vez:

- Devemos ter muito cuidado com o que pedimos em nossas orações porque, mais cedo ou mais tarde, os deuses acabam atendendo aos nossos pedidos.

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