LENDA
E VIDA
Lula Moura
"Eu fico com a pureza da
resposta das crianças:
- É a vida, é bonita e é bonita..."
Mas, e a vida? E a vida o que é diga lá, meu irmão? Ela é a batida de um coração? Ela é uma doce ilusão?
Vai Gonzaguinha, no gogó... Que pena! Ele já se foi...
Luiz Gonzaga Jr., o Gonzaguinha, fez das palavras acima um samba que, assim como a sua personalidade, marcou época, virou lenda e deixou muita saudade.
Rio de Janeiro, em ritmo de Carnaval:
Para uns, Carnaval é sinônimo de alegria e agitação, para outros é uma tremenda perdição, ou ainda, um simples feriadão para descansar... Tudo depende, e sempre depende, do ponto de vista, das crenças e valores de cada pessoa.
Viajando de Metrô numa quarta-feira que antecedeu ao Carnaval de 2002, soube pelo alto-falante, que estava acontecendo na Estação Carioca uma exposição intitulada "Clóvis Bornay - A Lenda Viva do Carnaval". Como era lá mesmo que iria descer, resolvi dar uma espiada. Afinal, sou da época em que os concursos de fantasias eram um dos pontos altos do carnaval carioca.
Lá estavam expostas fotos de fantasias e fatos marcantes de sua vida, como o Título de Cidadão Honorário Americano (Nova Orleans-1964). Mas, o que chamava mais atenção, eram as fantasias expostas em manequins. Todas, ao todo sete, interessantíssimas, expressavam o tema que seu nome indicava: ";O Rei dos Piratas", "Felipe II", "O Diabo de Olhos Verdes", "Sua Majestade, O Luxo", "Pierrô - Tristezas de Amor", "Incêndio em Roma", "Pavão Misterioso", etc...
Ao lado de uma destas fantasias estava um pôster do Clóvis Bornay usando-a, e pude perceber neste momento, a enorme diferença que a sua presença faz dentro delas. Tentei imaginá-lo ali, no lugar do manequim. A fantasia cresce, ganha vida e brilha muito mais.
Quando a gente faz o que gosta, e lança toda a intensidade do nosso ser neste projeto, com certeza o resultado será ótimo. Se gostamos, se temos facilidade, provavelmente é o nosso dom, nosso talento. O Clóvis Bornay conseguiu essa alquimia e reinou ganhando vários concursos de fantasias (de tanto ganhar, passou somente a se apresentar).
Fiquei pensando qual seria o sentimento dele sobre o Carnaval. Cheguei a conclusão de que seria o ponto alto do ano, onde mergulharia no mundo que gosta. Após criar e confeccionar durante meses, era chegado o momento de poder exibir todo o seu glamour para os amantes do Carnaval. Ficando triste somente na Quarta-feira de Cinzas, onde tudo termina... Hoje, já sem os grandes concursos, deve ficar curtindo a festa, sendo freqüentemente abordado e paparicado pelo grande público (direito adquirido ao longo de mais de meio século de carnaval). Figura polêmica, alvo de piadas sobre sua opção de vida, do alto de seus oitenta e tantos anos, o Carnaval para ele se resume, acredito, numa palavra: VIDA.
É isso aí, vida...
Mas, e a vida? E a vida o que é diga lá, meu irmão?
Trago o Gonzaguinha de volta que, em sendo LENDA, encerra conforme abrimos:
"Eu fico com a pureza da
resposta das crianças:
-É a vida, é bonita e é bonita..."
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