O
CASAMENTO
Paulo Henrique
Pampolin
Era simpática, tudo bem. Isso era algo que todos concordavam. No entanto, Laurinda, segunda filha no total de oito que seo Jerônimo e dona Lurdinha tinham, exagerava quando o assunto era casamento.
Solteirona, aos 39 anos, já tinha apelado para tudo na eterna busca de um pretendente. Houve uma época que até se dava ao luxo de querer escolher o felizardo. Com o passar do tempo, isso já não tinha a menor importância. Qualquer um servia. Bastava que como ela, estivesse desesperado para casar. De preferência que não perdesse tempo com bobagens como namorar. Que fosse direto ao assunto, que quisesse casar o quanto antes.
Tamanho desespero se explicava no fato de ver suas sete irmãs já casadas, inclusive a Luzia, a mais nova e considerada a mais feinha. Até ela conseguiu.
Já tinha até o vestido comprado, afinal não podia perder tempo. Era encontrar a última, pular dentro do vestido, dar uma arrumada no cabelo e chamar o reverendo. Vai que o noivo desiste.
Comprava revistas de horóscopo para saber qual signo mais combinava com o seu, virgem. Revista de anúncios matrimoniais então, tinha todas. Usava tática interessante, escrevia para todos anúncios masculinos, esperando retorno de ao menos um, já que monogâmica, pensava em casar com o primeiro que respondesse.
Não suportava ver as irmãs todas casadas, com filhos e ela de tiazona, encalhadíssima. Nem era tão feia, o problema era o pânico que causava em qualquer pretendente com a ansiedade de se tornar esposa.
Numa dessas revistas de horóscopo encontrou o relato de uma leitora que descrevia em detalhes uma simpatia infalível. Já tinha tentado tantas outras, todas falhas. Até mergulhou a imagem de Santo Antônio de cabeça para baixo numa jarra de água, nada adiantou. Mas essa daria certo. Tinha que dar.
Conforme a "receita" fornecida pela revista, cumpriu a risca para nada sair errado.
Com caneta vermelha, escreveu no fundo da calcinha branca usada no ano novo, o nome do pretendente, que era Juarez, o cinquentão aposentado que vivia sozinho na casa da esquina.
Aí vinha a parte mais difícil. Tinha que, à meia-noite de uma sexta-feira 13, vestir somente a tal calcinha, mais nenhuma outra peça de roupa. Dar sete voltas em torno da igreja matriz abraçada com a imagem de Santo Antônio. Era infalível. Três dias depois o pretendente a procuraria. Valia o risco.
Chegado o dia, vestiu a calcinha, colocou um vestidinho que tiraria quando chegasse no local, pegou a imagem e seguiu em direção a igreja. Estava pronta.
À meia-noite, trêmula, boca seca, mãos transpirando, olhando para todos os lados, tirou o vestidinho, abraçou a imagem e começou a caminhar em volta da igreja.
Na primeira curva que fez à direita, deu de cara com Juarez, que só de cueca branca, caminhava abraçado com a imagem de Santo Antônio.
Enorme transtorno. Laurinda não sabia se cobria os seios ou se segurava a imagem. Se corria, ou ficava parada. Juarez era puro constrangimento, tentava em vão colocar as mãos sobre a cueca, virava de lado para esconder a barriga, ameaçava correr para onde estavam suas roupas, mas a perna travada impedia. Cômico e patético, não sabia onde enfiar a cara.
Com a movimentação que acontecia, os gritos de vergonha que Lurdinha dava, acordaram Zé Prego, bêbado conhecido e figura folclórica da cidade, que confortavelmente dormia no banquinho da praça. Ajeitando-se, sentou, esfregou os olhos tentando entender o que se passava. Talvez ainda estivesse dormindo. Quando reconheceu o casal que ali estava, exclamou:
- Juarez, não disse que a simpatia que lhe ensinei era boa. Antes de acabar, a noiva já vem pronta para a Lua de Mel!!!
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