SIMPATIA E INIMIZADES
(OU COMO AMAR QUEM DEVERÍAMOS ODIAR)
Mairy Sarmanho
Não há como deixar de sentir uma certa simpatia pelo maior inimigo. Como pode ser isso, costumamos perguntar a nós mesmos. E só há uma explicação lógica: nosso inimigo reforça o código secreto da sobrevivência, onde tiramos o alimento da alma, que nos conduz à frente de batalha. Sem inimigos, seríamos apenas mais um na multidão, tentando encontrar um caminho ou, quem sabe, os tais quinze minutos de fama prometidos mas nem sempre cumpridos.
Não há como crescer, evoluir, dinamizar-se sem ter um único inimigo a nos empurrar para frente. Quando o nosso inimigo vence, roemos nossas almas devagarinho, remoemos nossos sentidos em busca das razões terríveis que leveram àquele cérebro de minhoca a obter mais sucesso do que o nosso magnífico exemplar de intelectual colocado sublimente sobre nossos ombros. E somos levados a investir em cultura, a buscar novos desafios, a estudar, ler, reconhecer. Então somos acometidos por uma súbita loucura que nos transforma em monstros cruéis capazes de superar as façanhas de nossos inimigos custe o que custar!
Quando nossos inimigos fracassam, fracassamos com eles. E nos tornamos apenas mais um na multidão, sem impulso, sem desafios, pequeno e medíocre ser perdido em divagações insípidas sobre a vida.
Quem nos empurra para frente? Nossos pais? Por vezes, bem que eles tentam, mas são muito ineficientes ante a presença daquele gordinho idiota que põe a língua para nós a toda hora e nos chama de burros. E, certamente, muito menos eficientes do que aquela professora sem nenhuma sensibilidade que sentencia: você nunca será nada na vida!
Nossos inimigos são a alavanca mestra que nos impulsiona para frente, se bem que eles adorariam que fosse o contrário... Assim, como não ter uma profunda simpatia por aqueles que sacrificam horas sagradas de sua existência para nos criticar, humilhar, ridicularizar, infernizar e impulsionar nossas almas para frente? Vivam os nossos inimigos! E que Deus lhes dê forças para prosseguir... (e o diabo os ajude a cair!)
Sou totalmente simpática às vitórias e ciladas de meus inimigos...
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