ÁGUA
DE RODO
Felipe de Paula
Souza
Hoje tomo estas linhas para, digamos assim, "repassar" uma história que chegou aos meus ouvidos. Aproveito, então, para agradecer a quem me passou essa história. Bem, deixa eu contar que é para isso que estou aqui: Há algum tempo atrás, um grupo de estudantes da minha universidade, acompanhados pelo professor, foi rumo ao sertão nordestino com o objetivo de realizar algumas filmagens daquela interessantíssima região de nosso país.
Sem dúvida era um belo "programa", uma empreitada trabalhosa, mas bastante agradável de ser realizada. Como eu dizia, o grupo composto de quatro alunos e o professor saiu da universidade e rumou, de ônibus, para uma pequena cidade no interior da Bahia. Horas de muita expectativa se dissiparam assim que o ônibus estacionou na principal praça da cidade. Era um pequeno vilarejo, de umas cinco ou seis ruas, no máximo. Ruas de terra, um aspecto totalmente agrário e também agreste. Todos descarregaram os equipamentos, montaram o "circo", e começaram o trabalho de registrar o cotidiano das pessoas simples, daquela cidade ainda mais simples.
Sei que tinha muita coisa para ser feita, o trabalho era grande. Acontece que as horas foram passando, o calor era muito forte e o pessoal foi ficando cansado. Então surgiu um pequeno problema: conseguir um lugar para tomar uma água e descansar um pouco. Lanchonetes e restaurantes nem pensar, a única alternativa seria contar com a hospitalidade da população local. O pessoal colocou o material no ombro e saiu em busca de alguém que os acolhesse por instantes. Rodaram pela cidade e encontraram um lugar, a casa de Seu Borotó.
Pessoa conhecida na cidade, Seu Borotó era um daqueles sertanejos típicos. Pessoa simples, trabalhadora, mas extremamente rude, agreste como a sua própria vida. O nosso sertanejo se dirigiu aos estudantes:
- Estão cansados?
De forma tímida todos responderam:
- Sim, sim!
Com seu tom de voz aparentemente agressivo, Seu Borotó voltou a perguntar:
- Querem entrar?
- Sim, se for possível, nós gostaríamos.
- Entra! Respondeu secamente, Seu Borotó.
- Querem sentar? Perguntou novamente.
Diante da nova afirmativa de todos, Seu Borotó apontou, ainda mais agreste, um sofá surrado que estava encostado na parede:
- Senta aí!
- Tão com sede?
- Sim.
- Querem água?
- Sim, por favor.
Então, Seu Borotó falou para sua esposa:
- Muié! Vai lá na cozinha e busca água pros moço aqui!
Muito humildemente, a mulher perguntou:
- Traz no copo?
Seu Borotó, de forma muito "simpática" respondeu:
- Não Muié! Que desgraça! Joga no chão e traz no rodo, porra!
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