MANÉ
Ana Carolina Boccardo Alves

Simpática foi a primeira palavra que me veio à mente quando a conheci. Ela chegou, se apresentou: "Oi, eu sou a Juliana e você, quem é?" Eu era nova na igreja e foi bom ter alguém com quem conversar.

Pois essa foi a única vez em que pensei nela como simpática. Mané é o que ela é, isso sim. A Ju é grossa, estúpida, nariz empinado, patricinha... absolutamente nada a ver comigo (nossa! Mas é uma das minhas melhores amigas, como vou falar assim dela publicamente?)

Só pra comprovar o uso dos adjetivos, cito alguns casos. Teve aquela vez, no meu aniversário, que eu entrei toda contente e feliz no apartamento dela e ela (num mau humor de dar gosto) me deu uma patada que quase saí chorando.

Teve aquela outra vez em que apresentei a ela um amigo meu do Rio Grande do Sul, que estava morando em São Paulo. Ela o detestou e deixou isso bem claro, sendo grossa com ele.

Quando tentei conversar com ela sobre alguns problemas em nossa amizade, ela olhou bem pra mim e disse: "Tudo bem, você pode falar mesmo, porque eu sei que você é do tipo que gosta e precisa falar, mas eu não vou responder nada e vai acabar por aqui, ok?"

Quando mudei para minha casa nova (sozinha) ela ficou meses sem ir me visitar, embora a gente continuasse se encontrando sempre na casa dela ou em outros locais.

Tem as diversas vezes em que ela trocou minha companhia num dia qualquer pela de outros amigos ou parceiros do sexo oposto.

Teve todas aquelas vezes em que ela me mandou para todos os lugares verbais possíveis, coisas que nem dá pra reproduzir.

Lembrando ainda que, quando ela está "naqueles dias" (e não tem nada a ver com menstruação) não passe perto dela, não converse com ela. É grosseria na certa.

Pois é, a Ju não é nem um pouco simpática. E simpatia é uma das qualidades essenciais para um relacionamento, especialmente de amizade, certo? Acho que não...

Quando me senti discriminada pela primeira vez na igreja, era aquela Mané que estava lá, conversando comigo...

Todas as vezes que preciso de um conselho, sempre tem um tempinho pra mim...

Quando ele morreu e meu mundo desabou, ela enxugou as lágrimas, comigo...

Quando estou triste, ela canta a música da Cremogema no meu ouvido, bem alto, pra me acordar e me fazer rir...

Quando fiquei doente, ela foi levar sopa lá em casa...

Todas as vezes em que ela percebeu que o seu mau humor havia chegado no exagero, me mandou um bilhetinho pedindo desculpas e, algumas vezes, um presentinho junto com ele...

Não, ela não é nem um pouco simpática, na noção exata do termo. Definitivamente, as definições no dicionário não servem pra muita coisa mesmo...

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