MEU
SANTUÁRIO
Sonia
Lencione
O lugar é totalmente encantado. Nele nenhum detalhe se alterou em muitos, muitos anos...
É um recanto de sonho. É só uma quimera?
Não, ele tem consistência, possui a força de existir mesmo não existindo!
É meio louco isso, mas eu o freqüento desde que me conheço por gente.
Quando o descobri era uma menina, e ele se mostrou a mim da mesma forma que o vejo hoje.
Tento descrevê-lo aqui e acredito que falando dele o encantamento não se acabará, porque ele já é parte de mim.
Quando lá chego a primeira coisa que avisto é uma árvore carregada de flores cor-de-rosa. Não vejo folhas, só flores. O caule dela é rugoso, meio parecido com angico; os galhos todos retorcidos. As flores... nunca as vi iguais em outro lugar.
Eu as toco mesmo estando elas no alto dos galhos e a sensação é inarrável. As pétalas são algo parecido com pedaços de nuvens coloridas.
Eu as sinto como se fossem uma continuação de mim, e observo a paisagem ao redor. Vejo um gramado tão verde que chega a me doer os olhos. E flores de tantas cores, que não pertencem unicamente ao arco-íris que conheço.
Eu caminho sem pisá-las, porque na verdade nem caminho com meus pés neste lugar. Tenho a sensação de possuir asas.
Mais adiante existe uma nascente que brota entre avencas e samambaias. As pedras que a circundam são negras e luzidias. Sinto a friagem delas, os respingos da água e o frescor das folhagens.
Fico sempre um bom tempo absorvendo a energia das pedras e daquela água puríssima.
Não a toco, mas a sinto invadindo-me inteira.
Deixo a fonte e outro ponto me atrai. É uma plantação de trigo. Ouço o roçar dos cachos; sinto os grãos tocando-se uns aos outros.
Sinto que sou parte da plantação, que também participo do milagre do grão.
Depois de um tempo me dirijo ao centro deste triângulo tão bem formado.
Fico ali acariciando as flores coloridas, extática, bem no meio do gramado.
Sinto que é minha alma que está ali ajoelhada, rezando...
Suponhamos que não exista este lugar e que só o criei com as teias da minha imaginação. Suponhamos.
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