MIND
THE GAP, PLEASE!
Paulo Henrique
Pampolin
O velho, mas eficiente comboio de vagões do metrô de Londres, lentamente pára na plataforma da estação e no momento de abrir as portas, já ecoava repetidas vezes, uma voz masculina grave nos auto-falantes da antiga estação:
- MIND THE GAP, PLEASE! MIND THE GAP, PLEASE!
O comboio fechava as portas, a voz do auto-falante cessava e lá ia o trem para a próxima estação, onde o ritual com a tal frase se repetia.
Com meu inglês de quinta-série era impossível decifrar o que estava sendo dito. Inevitável lembrar situação semelhante no metrô paulistano, onde constantemente se ouve nos falantes coisas como:
- Funcionário Antonio de Souza, do CSO, compareça no SSO.
Ou:
- Funcionário Joaquim da Silva, compareça na linha de bloqueio.
Supus, é a mesma coisa.
O que me intrigava é que o tal "Mind the Gap" estava em todas as estações. Pensava:
- Que sujeito prodígio, está presente em todas as paradas.
Claro que curioso que sou, minha cabeça começou a imaginar diversas hipóteses para decifrar o enigma. Cheguei a conclusão que o tal fulano viajava no metrô e descia em cada uma das paradas, fazia algum trabalho rápido, retornava para o vagão e assim sucessivamente. Só podia ser isso.
Desci na plataforma só para ficar olhando se via alguém uniformizado descer e retornar ao vagão. Nada, não vi nada, além dos passageiros normais que iam e vinham.
Comecei então a prestar atenção na fisionomia das pessoas que estavam no vagão. Não, aquele tem cara de "Brian"... este outro deve ser "John", além do mais entrou no vagão agora e o tal "Mind the Gap" vem desde que entrei no metrô... não, aquela não... esse fulano deve ser homem, suponho.
Fiz todos os passeios do dia e retornei ao hotel. Na recepção, um feliz atendente me recebeu com um animado "Good Evening!". Não perdi tempo e fui logo perguntando:
- Quem é este tal de "Mind the Gap" que está em todas as estações de metrô? Qual é a função dele na empresa?
- Me desculpe, não entendi sua pergunta, senhor. - respondeu quase gago o recepcionista.
Repeti a pergunta com todas as letras.
O atendente sob mil desculpas ainda não havia entendido, porém já me olhava com cara de quem ouvia um grande absurdo. Tornei a repetir a pergunta. O agora encabulado funcionário que a essa altura já me olhava com cara de quem estava vendo uma anta, pacientemente e gesticulando, me explicou:
- Gap é buraco. Entre o trem e a plataforma, existe um vão, um buraco... assim, "Mind the Gap", significa, "cuidado com o buraco".
Sem saber onde enfiar a cara, tudo que mais queria era uma pá para cavar um "gap" ali mesmo, na recepção e me esconder.
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