NA PRÓXIMA ESTAÇÃO
Jorge Silva
Ontem estava no amanhã que agora sonho para mim. Nem reparei.
Vivi esse tempo sem ter a noção do que tinha. Mas perdi.
Evito lembrar. A melancolia é vizinha da depressão. E correm depressa as notícias nesse prédio devoluto, sito nos bastidores da consciência de cada um de nós.
As recordações de perdas sofridas evocam a saudade. São más companhias.
Mais vale só. Ainda que valha pouco uma pessoa doente, infectada pelo virus da solidão. Pode contagiar qualquer um. E não existe uma vacina, lacuna na medicina, para o desgosto de amor.
Ou outro que seja. Não existe lugar no mundo para os deserdados do coração.
Talvez já tenha existido, mas eu não percebi. Andava distraído, perdido nas vielas do supérfluo quando possuia morada na artéria principal. O meu mal era a falta de orientação.
Encontrei o caminho, entretanto. Tinha partido o comboio quando cheguei à estação. Sentei-me sozinho num banco, à espera da seguinte locomotiva, a que estava para chegar.
Ainda não chegou.
E eu continuo sentado, talvez venha no dia a seguir.
Poderei então reviver, apenas um dia depois, o sonho do que terei no futuro.
Quando der pela falta outra vez.
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