BOBAGENS
Fátima de Carvalho Palácio

Penso em deixar a cidade. Assim, coisa de filme de faroeste. O vento balançando as tabuletas, o mocinho olhando para mim, com olhos de cachorrinho. Fica, fica!

Minhas supremas decisões, firmes como rochas. Talvez um blues de fundo musical. Cartões postais para os amigos, para os inimigos. Melhor mandar para os inimigos, aqueles que odeiam você. Como, aquela idiota está em Paris?

O prazer de achar. Achar que você vai sentir falta dessa pessoa maravilhosa, toda vez que tomar café. Que ficarei na memória de teu computador. Que o teu carro vai reclamar no teu ouvido, fazendo barulhos estranhos.

Penso tantas bobagens. Refaço nossos percursos, achando que naquela esquina, você vai chorar. Na outra vai esperar sentir minha mão em teu ombro, toque para atravessar a rua.

Cegos para todos os sinais. Penso em deixar a cidade.Tomo um café, vontade de mudar a cena. Acender um cigarro, como antes. Fumar com você andando em direção ao Masp.

Iríamos para a mesma cidade. Uma bem fria, com seis meses de inverno, ali na fronteira com o Ártico, onde você queimou os lábios.

Penso em deixar a cidade. Será que no vento do inverno, as tabuletas vão ficar mais charmosas?

Será que na neve teu olhar será mais quente? Será que teu beijo vai me fazer esquecer? Fica, fica! Antes de sairmos da cidade vamos ouvir mais uma vez Vapor Barato.

Então iremos embora, tabuletas ao vento, direções diferentes.

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