EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO
Sérgio Galli

Tempo perdido tempo partido partitas tempo redescoberto tempura espaço-tempo tempoespaço temperatura em baixa tempestade de neve.

Bons tempos em que o debate político era ideológico. Havia um embate de idéia e, por vezes, ideais. Tempos de idealismo. Os pragmáticos dirão que é puro romantismo ou qualquer outro chavão. Nos tempos "mudernos", internéticos, cibernéticos, imagéticos, a questão central é saber para que candidato trabalhará o marqueteiro da moda. Assim é o admirável mundo novo em que o grande ideal é aparecer na televisão, ser famoso.

Há um tempo biológico, há um tempo geológico. O homo sapiens (cada vez mais homo demens, na expressão do filósofo francês Edgar Morin) em termos temporais não significa absolutamente nada. Poderemos viver até 70, 80, 90 anos. Mil anos, dois mil anos são apenas uma piscadela em termos geológicos. Os primeiro hominídeos têm 70 mil anos. A extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos, causada pela queda de um asteróide, permitiu que os mamíferos sobrevivessem. Graças a esse acaso, estou a escrever esta crônica que alguns semelhantes - presunção minha - irão ler. O Big Bang - teoria mais aceita pelos cientistas - foi uma grande explosão da qual nasceu o universo, há 15 bilhões de anos. O Sol tem cinco bilhões de anos e a Terra, quatro bilhões e quinhentos milhões de anos. Os traços de vida apareceram por volta de três bilhões e setecentos milhões de anos. Sem esquecer que eram organismos unicelulares. Algas multicelulares apareceram há um bilhão e 500 milhões de anos. Percebe-se que nessa escala de tempo somos um minúsculo e invisível grão de areia perdido na interminável areia movediça da civilização. Em dois bilhões de anos, no universo em expansão, o planeta Terra irá tornar-se inabitável pelo aquecimento gradual do Sol.

Disso tudo, pode-se deduzir que a arrogância humana é uma bazófia. As bactérias, que nós consideramos seres inferiores, estão na Terra muito antes e nós e provavelmente irão sobreviver a nós. Na verdade elas é que nos dominam e não o contrário. Esse é o tempo real. Não o da internet, o do telefone móvel (por que celular?), o da "casa dos artistas", o de Wall Street. Einstein, Niels Bohr, Fermi, Heisensberg, a física quântica já provaram a relatividade das coisas. Os fenômenos não são apenas objetivos. Há olhar subjetivo do observador sobre os fenômenos. A vida não é um poema em linha reta. Ordem e progresso são palavras de ordem estampadas na bandeira e, além de ridículas, serviram de pretexto para atos vis.

A noção de tempo e espaço foi subvertida pela física quântica. Tempoespaço é a fórmula mais correta. A complexidade permeia o universo, o mundo, a terra, a consciência, a mente e o coração. Mais do que nunca é necessário se ter a perspectiva do tempo, da história, da filosófica, a paleontologia, da geologia e sua conectividade com o espaço. Tarefa amiúde deveras árdua e inglória. Afinal, na nossa era da manipulação, da sociedade do espetáculo tudo parece ter começado na década de 80, quiçá, de 90. O século XIX, de Balzac, Brahms, da primeira revolução industrial, a pleno vapor, está tão distante, o que dizer do recém extinto século XX das duas guerras mundiais, da bomba atômica, do atonalismo, de Picasso, de Thomas Mann, de Fellini, dos Beatles, de John Coltrane, dos quarks, (alguém lembra-se disso?). Falar da idade Média parece maluquice (há os filmes de óliude sobre esses tempos, mas sempre sob olhar modernoso e espetacular). Enquanto isso, em tempo real, FFHH e sua ekipeconômica nãos esquecem de meter a mão no nosso bolso. A tunga prossegue cada vez mais voraz. Vai de novo passear em Moscou com o seu elegante sobretudo e sobre nós, os trouxas, a choldra, desaba seu cínico sorriso. E tome ajuste fiscal. E tome apagão. Deveriam entregar logo o Brazil para o FMI, o Banco Mundial e óliude, sairia mais barato. Chega de intermediário, a solução é alugar o Brazil.

O ser humano continua nas cavernas, claro com um certo conforto (a minoria, claro, pois a maioria da população ainda morre de fome, de disenteria, etc.), tv a cabo, geladeira, forno microondas, computador... Continua a fazer guerras para enfrentar mais uma crise de superprodução. Continua a fabricar bombas ao invés de produzir milho. Enfim, estamos sob a tirania da informação e do dinheiro, afora alguns contratempos. Nossa empáfia durará alguns bilhões de anos, quem sabem, um pouco menos.

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