EINSTEIN, HAWKING E GAROUPAS
May Parreira e Ferreira

Seu dedo numa chapa incandescente por uma fração de segundo será uma eternidade. Uma hora de amor parecerá um segundo aos olhos dos amantes. Mais ou menos assim, Einstein tentava explicar sua teoria aos leigos.

É mesmo, se é a Terra quem dá voltas no sol, temos o quê com isso. Há os que confirmem as viagens no tempo. Escrevo na primeira página do livro de S. Hawking: Se você está interessado nas coisas do tempo, e é meu descendente, volte para me fazer uma visita. Aguardo ansiosa por isso, May 2002. Será quando esse livro, apenas um fragmento do passado.

Enquanto isso vou vivendo meu presente, ignorando os buracos de minhocas por onde os físicos afirmam poder entrar num momento e voltar antes da partida. Ai meus ais, buracos de minhoca eu conheço os do jardim.

No Ano Novo, ou melhor, no tempo cronologicamente determinado como sendo início de ano, saímos do Triângulo Mineiro e tomamos direção sudeste. Barra do Una em São Sebastião, SP. Amigos queridos nos receberam para os festejos a beira-mar.

Minhas últimas experiências em praias se resumiram em uma travessia no mar de Ilha Bela, gelado e cheio de águas-vivas, e outra em São Vicente perto da Ponte Pênsil, nem preciso dizer no meio de quê nadei.

No Una, foram dias maravilhosos, alguma chuva nada séria, ótimas corridas num tapete de areia batida, um sol de torrar mamonas, comidas e bebidas no mínimo primorosas.

Não sei ao certo quanto tempo ficamos lá. Talvez quatro dias, talvez menos. Fração de segundo quando penso no sashimi de garoupa com o champanhe irritantemente bom e gelado.

Uma eternidade quando penso no carinho dos amigos, nas conversas de areia, no amor que se consolida através da convivência e que trouxemos conosco na subida da serra, na volta ao cerrado.

Agora, novamente em casa eu penso no tempo. Tempo de chuva, de enchentes, de gente que vai, de gente que vem. Tempo de tudo neste mundãodemeudeus. Penso também no tempo em que, menina, eu acreditava que no ano 2002 eu estaria velha, muito velha. Fui verificar no espelho se esta velha sou eu. Ainda não, me sinto tão bem disposta para uma senhora de meia idade, tenho todo o tempo do mundo à minha frente. Tempo para reinventar a vida.

Mas será este tempo interno o mesmo da Terra que circunda o Sol, pergunto.

São quatro da tarde, o tempo está fechando sobre a minha cabeça. Preciso desligar as máquinas porque a chuva que se arma não é de brincadeira.

O tempo dentro de mim se abre. Feliz Ano-Novo todos os dias.

fale com a autora

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.