DUPLOS PONTEIROS
Eliana Pace

Naquela casa distante, dois relógios marcavam o tempo - o de ponteiros claros, as horas brandas e doces; o de ponteiros negros, as horas azedas e sinistras.

Naquela casa distante, dois relógios marcavam o futuro - o de ponteiros claros, as alegrias e os sonhos; o de ponteiros negros, as mágoas e os prantos.

Naquela casa, dois relógios marcavam a vida.

Descansei as malas junto ao portão, procurei uma campainha, que não encontrei, e bati palmas. Uma, duas, três vezes. Uma jovenzinha apareceu em uma das janelas do primeiro andar e me perguntou: - o que quer?

- É minha casa - respondi. Quero rever a família.

Ela deve ter descido as escadas rapidamente porque ofegava quando me abriu a porta. Estava sem jeito, mas mesmo assim foi gentil e me fez entrar.

- Não tem ninguém. As pessoas que moravam aqui foram embora faz tempo. Só deixaram aqueles dois relógios quebrados. Meu pai ficou tomando conta da casa.

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