"QUEM PERDE TEMPO,
ETERNA PERDA CHORA"
Eduardo Loureiro Jr.
É quase impossível prever o que uma criança aprenderá na escola, que tipos de lembranças guardará, que lições virá a aprender.
Para alguns a escola será nada mais do que o cenário para o primeiro beijo. Para outros, o local de formação da primeira quadrilha de assaltos a lojas de departamento. Para mim, a escola foi o lugar onde li essa frase: "Quem perde tempo, eterna perda chora".
Todo dia, durante seis anos, ao subir as escadas para a minha sala de aula, lá estava, no topo de uma das paredes, impossível de não ser vista, a frase enigmática. Assim como o Hino Nacional, que a gente cantava no pátio da escola toda segunda-feira, eu também não compreendia essa frase muito bem.
Hoje, para mim, ela é bastante clara, tão clara que me ofusca e não consigo lembrar como era que eu interpretava a frase quando tinha de 10 a 16 anos. Só sei que não entendia, que a frase era como que escrita com reticências: Quem perde tempo... E o que vinha em seguida eu imaginava. Acho que não me passava pela cabeça que "perda" era um substantivo que substituía a palavra "tempo", citada anteriormente. Ou então eu queria mesmo era não entender.
Talvez eu pensasse que o tempo era uma coisa que se podia perder, como a meia da farda ou alguma peça de um brinquedo. Quando alguma coisa sumia, eu fazia como minha mãe tinha me ensinado, e rezava: São Longuinho, São Longuinho, se eu encontrar o tempo perdido eu dou três pulinhos. Devo ter recuperado muito tempo naquela época, porque São Longuinho nunca falhava.
Hoje sei que aquela frase tinha por objetivo nos incentivar à concentração nos estudos. Ela diria, se fosse uma frase mais explícita ao invés de uma frase de efeito: Quem perde tempo fazendo outras coisas, passará o resto da vida se lamentando pelo tempo que perdeu.
A frase estava certa. De vez em quando, e sempre, choro o tempo perdido nas lições de História e Matemática - um CDF perde muito tempo nessas e em todas as outras matérias - quando deveria tê-lo aproveitado beijando uma primeira, uma segunda e uma terceira vez - só dei meu primeiro beijo após sair da escola - e roubando alguns discos nas Lojas Americanas. Talvez eu tivesse, em minha pequena coleção, mais algumas namoradas - a Cláudia, a Patrícia, a Joana - e alguns discos raros, como os do Espírito da Coisa, do Zero e do Metrô.
São Longuinho, São Longuinho, se eu encontrar a juventude perdida, eu dou três pulinhos.
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