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CONTOS COLETIVOS

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VINTE E CINCO
O NATAL DA FAMÍLIA SERAFIM

 

No canto da sala um pinheiro falso exibia com orgulho suas fieiras de luzes tremelicantes. A porta da cozinha deixava escapar vapores de pães e vinhos adocicados e risos femininos abafados, misturados ao choro de duas ou três crianças. O som da campainha soou estridente e Maria Regina correu o mais rápido que pôde sobre os saltos para abrir a porta da frente.

Exultava, pois sabia que eram os primeiros familiares que chegavam, vindos do Rio, como todos os anos, para a noite tão planejada e esperada. Eles eram sempre os primeiros a chegar pois precisavam acomodar suas bagagens, trocar suas roupas e descansar um pouco da viagem cansativa, mas que lhes dava um enorme prazer.

Era uma alegria ímpar reunir todos os membros da família na noite de Natal. Vê-los alegres colocarem seus presentes etiquetados sob a árvore, aguardando ansiosos pelo momento em que uma canção característica se faria ouvida em tom não muito alto, na penumbra quebrada pelas inúmeras velas que enfeitavam a mesa, enquanto ela, seguida pelo marido ou uma das duas filhas, numa prece de agradecimento ao "Dono da Festa", dava as boas vindas a todos, passando a palavra para quem mais tivesse vontade de exprimir a felicidade daquele momento, antes dos cumprimentos e da troca de presentes.

A comidaria estava parcialmente digerida pelos olhares impacientes das crianças, enquanto as mentes de raios X escrutinizavam os intocáveis presentes, pintando-os mais caros, puxando-os para seus sonhos, enquanto podiam.

O fim das tediosas preces foi o início do milagre do desaparecimento das rabanadas, misturadas impiedosamente com pedaços do suculento peru, daqueles que já vem temperados, e nunca assam demais pois já vêm com...

- O termômetro! Alguém comeu o termômetro! - alertou o dono da casa.

Arnaldinho sentiu um negócio estranho, mas engoliu olhando ressabiado para os lados, a ver se fora flagrado. Deu um golão de Cidra que a mãe lhe deixara tomar e pra não ficar nenhum vestígio indigesto, abocanhou a última rabanada do prato, o que o fez alvo de olhares hostis pelos primos do Rio. Todo mundo comendo e o tio Nestor ainda com as mãos sobre a enorme pança, olhando em volta sobre um largo e luzente sorriso protético, dizendo sem parar:

- Mais um ano com vida e saúde, ora ora! Mais um ano!

Cássio tinha o prato esquecido à sua frente. Olhava do peru para o decote da Ercília. Até que a Domitila percebeu e tascou-lhe um safanão na cabeça, rindo alto para despistar.

Na cabeceira da mesa encontrava-se a avó Gertrudes, matriarca incontestável da família. Respeitada e amada por todos. Era uma daquelas mulheres que conseguem captar os acontecimentos no ar. Com a sabedoria de toda uma vida, representada pelos seus cabelos alvos, percebeu que aquela risada soava a falso. Fez um discreto sinal a Domitila com o olhar. Esta, sentindo-se de novo como uma criança, retomou a compostura.

- Tem razão, Nestor. Vida e saúde são bens preciosos. São eles que me permitem a alegria de ainda festejar o Natal entre todos vocês...

Ia continuar com o seu habitual discurso de todos os Natais quando a Xaninha, a bebé da família, se instalou no seu colo, enchendo-a de beijos, emudecendo-a de comoção com a inocência dos seus dois anos.

Helena segurou a mão do marido e apertou forte. Aquele não era o homem da sua vida? Quantos natais iguais, tantos anos! Ele sorriu como se pudesse ler seus pensamentos e beijou de leve sua boca, enquanto o caçula puxava sua camisa, ansioso para receber os presentes. Aline, a filha mais velha do casal, abraçou a avó e estalou um beijo na sua bochecha, coberta de pó de arroz. "Minha filha, você precisa se vestir com mais compostura", disse Dona Gertrudes, olhando para o vestido branco que mal cobria o corpo da neta. Todos riram de maneira abafada e Helena explicou que os jovens hoje em dia andavam assim mesmo, e Dona Gertudres balançou a cabeça, inconformada.

Domitila consertou o top que dava a ela um ar sexy. Sabia que estava sobrando ali e nunca faria realmente parte daquela família. De repente teve uma idéia.

- Cássio!

O marido, já meio alto, chegou sorrindo e se enroscando. Disfarçadamente Domitila pegou-o pelo braço e esgueirou-se rumo ao quarto da empregada. Dona Gertrudes, a quem nada escapava, notou e balançou a cabeça afirmativamente: Domitila e suas boas idéias... Quem perdeu o lance foi o tio Nestor, que com olhos de sono ruminava sua dentadura frouxa.

A festa ia em meio. Maria Regina desdobrava-se em atenções, quando Dona Gertrudes chamou-a para compartilhar uma taça de vinho:

- Hoje eu não bebo, mamãe. Tenho que manter tudo em ordem para... (hesitou).

- Para quando Raul chegar?, perguntou de chofre a sábia matricarca.

Maria Regina corou, emudeceu, serviu-se de vinho tinto e sentou-se ao lado da mãe. Como ela descobrira?

Nisso um barulho estranho chamou a atenção de todos. Era um gemido alto que deixou a Vovó Gertrudes vermelha como um pimentão. Maria Regina achou aquilo um desaforo e resolveu tomar satisfação. Correu até o quarto enquanto a Vovó distraía os netos e abriu a porta rapidamente.

Cássio estava somente de meias e cambaleava entre a cama e o bidê do quarto com a saia de Domitila cobrindo a sua cabeça.

Domitila, vendo Maria Regina entrar, pulou para baixo das cobertas e gritou para Cássio:

- Cássio! Saia já daí, eu te disse que não era hora destas coisas. Corre senão as crianças vão te ver assim.

Cássio, assustado e grogue com tanta champagne que havia tomado, vê a porta como sua salvação. Fecha um olho para conseguir mirar direito a porta e larga em disparada. Maria Regina quase cai com o avanço de Cássio e acha que aquele Natal nunca mais será esquecido. Afinal, não é sempre que toda a família vê um de seus membros só de meias nos pés e correndo com um vestido na cabeça.

Enquanto as atenções ainda estão voltadas pelos gritos de Domitila no quarto, Cássio aproveita e passa como um furacão pela sala para não ser reconhecido (se é que isso era possível na altura dos acontecimentos). O vestido, junto com a champagne na cabeça, atrapalha sua direção e ele acaba trombando com a árvore de Natal. Ela cai e as luzes param de funcionar. Pior ainda, um curto-circuito começa na Estrela de Belém e se alastra por toda a árvore. A porta da frente se fecha com a saída de Cássio e a árvore arde em chamas.

Vovó Gertrudes passa de vermelha para pálida, pois engasga com a dentadura enquanto o caçula começa a pular e gritar de alegria em frente à árvore em chamas.

Em poucos instantes o que era uma reunião de família se transformou num pandemônio. Vovó Gertrudes engasgada com a dentadura só gemia. Tio Nestor, corria - se é que se podia chamar aquilo de corrida - da cozinha para a a sala com copos de água na tentativa vã de apagar o fogo.

As mães tentavam juntar seus filhos. Domitila, apavorada, tentava improvisar uma toga com o lençol, já que Cassio a deixara sem ter o que vestir. E os pequenos deliciados pulavam e cantavam:

"Pinheirinho que alegria, tra-la-la-la-lá, la-la-la-lá.
Sinos tocam noite e dia, tra-la-la-la-lá, la-la-la-lá.
É o natal que vem chegando, tra-la-lá tra-la-lá tra-la-lá.
Traz papai noel presentes, tra-la-la-la-lá, la-la-la-lá."

- Os presentes!

Maria Regina olhou na direção da árvore em chamas, horrorizada.

Estava tudo ardendo como nas antigas festas tribais e os meninos deliciados pulavam e cantavam entre as fagulhas.

Nesta hora tio Nestor chegou com o extintor. A espuma que saiu dele acabou com a brincadeira do pinheiro frito, mas iniciou a dança do escorrega. Os pestinhas jogavam flocos de espuma uns nos outros, enquanto Maria Regina tentava salvar o que sobrara dos presentes. Domitila, como uma estátua da Liberdade improvisada na sua toga, foi se encaminhando disfarçadamente para a saida, tropeçou no cachorro que ganiu mal-humorado para ela e caiu nos braços de um estranho que acabava de entrar pela porta aberta.

- Alfredo!... você veio afinal!... - Ela ouviu o grito do tio Nestor e sentiu os braços fortes que a amparavam com delicadeza e conduziam até o sofá molhado como se ela não estivesse vestida apenas com um lençol, mas com um maravilhoso modelo de grife. Aquele homem sabia fazer uma mulher se sentir poderosa.

- A festinha estava animada. - Foi a única observação que ele fez vendo os frangalhos da árvore de Natal enegrecida, os flocos de espuma que ainda bailavam pela sala, as crianças afogueadas e sorridentes, uma dentadura esquecida sobre a mesa entre pernis e perus semi-devorados. Depois, percebendo a matriarca que se abanava com um guardanapo, dirigiu-se até ela, curvando-se numa mesura de Roberto Carlos do subúrbio:

- Madame... encantado de participar da sua festinha. Eu sou o amigo do Nestor. O Alfredo, lá do Rio de Janeiro.

Vovó Gertrudes, enfim livre da dentadura que a sufocava, sorriu feliz para aquele estranho tão delicado (ele dava até uns ares do falecido, nos tempos em que se esbaldavam dançando tango nos bailes do clube). Como uma grande senhora, estendeu a mão gorducha para o recém-chegado e sorriu. Tinha que admitir que poucas vezes tivera um Natal tão animado. Talvez nos velhos tempos do... deixa pra lá... é que este jovem a fazia sentir viva como há muito tempo não se sentia.

Foi quando uma voz trovejante anunciou da porta aberta:

- Polícia!

O guarda bateu a porta atrás de si. Foi a conta. Domitila quis se levantar e se esborrachou no tapete de espuma. Levantou-se desajeitada, com o vestido-lençol encharcado - as formas delineadas, os seios grudados, brotando. Tio Nestor teve uma crise de tosse ao ver Domitila em transparente.

A campainha soou - era Raul que, como como sempre, chegava atrasado. Ao se deparar com aquela inesperada seminudez, deixou cair por terra o arranjo de pacotes que trazia. As crianças correram apanhar.

Alfredo socorreu Domitila dos olhares impertinentes de Raul. Ergueu-a com um gesto firme, que só havia visto em "O Vento Levou". Fitou aqueles olhos e neles se deixou algemada.

O policial postou as mãos na cintura, ao feitio de um açucareiro:

- Muito bem! - e deu início à ocorrência. - Fomos informados que aqui havia distúrbio e fumaça saindo pela janela. Onde está o dono da casa? O elemento que se apresente!

No meio dos convivas surgem dois braços erguidos, serpenteando entre a pequena multidão. Antes que se identificasse, ouviu da autoridade o veredicto:

- Teje preso!

As mulheres começaram a gritar, a balbúrdia foi geral. - Meu Deus, que desgraça! - Justo hoje! - Devo estar tendo um pesadelo! - uns e outros apelos iam sendo emitidos pelos presentes.

O portador dos braços erguidos apresentou-se. Era Cunha, o marido de Maria Regina, um homem tão discreto, mas tão discreto que ninguém lembrava-se que era ele o dono da casa.

- Pode me prender! Pode me prender! A prisão deve ser melhor que esse inferno. Não aguento mais tanta indiferença. Não aguento mais essa casa. Não aguento mais essa família. Natal, pinheiro em chamas, crianças correndo, mulheres desnudas, essa velha maluca, dentaduras na mesa e ainda a louca da minha mulher, Maria Regina, que desde novembro não pensa em outra coisa a não ser nessa bendita festa! Natal coisa nenhuma! Sei que ela estava se preparando toda só para esperar...

Calou-se. Ia fazer menção a Raul, mas o orgulho falou mais alto. Um pouco mais calmo, disse com olhar sério:

- Prenda-me, seu guarda. Alegue o que quiser. Sou culpado. Meu único e principal papel aqui é pagar as contas. Prenda-me.

Abaixando os braços, num gesto cansado e com lágrimas nos olhos, entregou-se com resignação.

Maria Regina sentiu as faces em fogo. Olhou discretamente para Raul e sentiu mais calor ainda ao perceber que ele não conseguia tirar os olhos dos seios de Domitila.

O policial, depois do desabafo de Cunha, pareceu hesitar, e sentiu pena, muita pena daquele homem de repente tão frágil. Simulou um chamado na viatura. Precisava atender ao rádio. Precisava, mais que tudo, arranjar uma maneira de sair dali. Já do lado de fora, aliviado, pensou em quantos Cunhas estariam neste momento preferindo a prisão a uma festa em família.

Lá dentro, uma estranha sensação tomara conta de todos. O Cunha? Mas logo ele que parecia tão feliz! - e se entreolhavam, e faziam especulações, como que tentando descobrir algum fato novo que explicasse o desabafo.

Cunha sabia que eles jamais entenderiam a saudade que sentia dos natais de sua infância. Natais menos fartos, menos cheios de brilhos, mas abarrotados de alegria, de amor. Lembrava-se de cada detalhe daquelas noites mágicas que hoje lhe pareciam ainda mais distantes. Onde andaria o verdadeiro espírito de Natal?

Da sala podiam ouvir o policial que falava ao rádio:

- Positivo, a caminho!

Voltou correndo, na melhor imitação de agente de seriado americano que conseguia fazer e disse, com o indicador em riste apontando ora para Cunha, ora para os demais:

- Tem um maluco no centro dizendo que colocou uma bomba na rena da decoração do shopping. É o seguinte: dessa vez eu vou liberar vocês, mas que eu não fique sabendo de arruaça, fumaça e gente nua - olhou pros seios da Domitila e pensou que o crime nem era tão hediondo assim - nessa vizinhança. É xadrez, heim! Xilindró! E foi embora, cantando os pneus da caravan.

Num acesso de desprendimento e transcendência espiritual, Maria Regina quebrou o silêncio:

- Gente, tem pavê! - e zuniu para a cozinha.

Raul achou que deveria ir atrás dela, mas os gêmeos estavam no colo dele e, além disso, a visão de Domitila estendida no sofá, aprendendo com Alfredo como Cleópatra comia tâmaras não era das piores. Se bem que ela estava comendo batatinhas.

Lá fora, Cunha enchia a boca com grandes dentadas no panetone. Teve um pequeno sobressalto quando deu pela presença de Ercília.

- Reveillon em Trancoso, eu pago.

- Desculpa, não entendi...

- Eu e você, vamos. Depois a gente vê no que é que dá. No ano que vem.

O Cunha passou a mão pelo bolso pra ter certeza de que os documentos estavam mesmo ali. Só pra se certificar, pois aquele da foto não seria mais ele. Antenor Cunha, a máquina sexy, acabara de nascer. Quando entraram no táxi, Ercília percebeu que ele já sorria diferente e apertou sua mão mais forte, ansiosa. Que se danassem os outros, ele tinha chorado! E ela era louca por homens que choravam.

* * * * * *

Já era alta madrugada quando Dona Gertrudes, recolhida a seu quarto, cumpriu o ritual de toda noite. Tirou do armário a mala com suas coisas pessoais e, dela, o embrulho com o pijama do marido.

Mais um Natal sem ti, querido Arnaldo, falou para si mesma enquanto sentia no rosto a delicadeza da seda que vestira seu amado nas noites inesquecíveis. Dez anos sem tua presença e ainda trago no peito as marcas de teus beijos.

Gertrudes ajeitou-se na cama ainda com a luz acesa e lembrou-se da noite tumultuada. Riu porque só rindo mesmo!

As famílias são assim. As famílias são ajuntamentos de conflitos, tu dizias.

Repassou os fatos de memória e continuou sua conversa com a seda do pijama vazio.

Teu sonho de transformar o Natal em uma festa pagã quase se realizou na noite de hoje, disse ela, rindo. Teu sobrinho Cássio foi pego em flagrante por Regininha, semi-nu, aos abraços com Domitila no quarto da empregada. Ouvíamos os gemidos da sala, vejas tu!

Foi uma noite de engasgos, pensou Dona Gertrudes. E anotou mentalmente que deveria reafirmar as recomendações a Domitila para observar Arnaldinho. Aquele termômetro pode gerar complicações. Se bem que crianças são como avestruzes, mas sempre é bom manter certa atenção. Não quis continuar a pensar no assunto, que lhe lembrava a dentadura frouxa e o amado não merecia esse tipo de consideração justo na noite de Natal. Prosseguiu sua conversa:

Tu tinhas razão. Helena não casou. Arranjou uma sombra. Aquele marido, como é o nome dele mesmo?, ah, não lembro, é uma mosca morta. Não entendo o que aquela menina vê nele. Talvez seja um sonso entre nós, mas um amante dedicado. Não sei, eu não suportaria ter ao meu lado um quase homem daqueles. Engraçado, porque tiveram gêmeos lindos e sorridentes, brincalhões e afáveis. Puxaram a mãe, sem dúvida.

Dona Gertrudes afagava o pijama e lembrava.

Como eu esperava, Arnaldo, o casamento de Regininha acabou. Se mais não fosse, o assunto já estaria encerrado por conta de Antenor, que fugiu com Ercília, aquela maluca. Talvez se ajeitem. Tu sempre tivestes a impressão de que ele interpretava um papel. Pois acredito que, hoje, assumiu sua insatisfação com a vida. Fico triste pelas crianças, mas não podemos fazer muito, não é, meu doce? Regininha já está ajeitada com aquele rapaz, o Raul. Nossa filha tem bom gosto, querido Arnaldo. É um belo homem!

De repente, a matrona parou, como que surpreendida por pensamentos proibidos.

Me perdoes pela impertinência dos pensamentos, meu doce amor. Mas, hoje, conheci um homem que reacendeu em mim as lembranças de nossos momentos dourados. Eu nunca sentira isso antes. Mas as lembranças não foram tristes. Lembrei dos teus carinhos e não fiquei triste. Afogueou-me o corpo, vejas só! Jamais pude ver em outra pessoa as faíscas de tua magnitude. Entretanto, aquele jovem - que nada tem de ti, aparentemente - traz nos olhos o fogo delicado de teu olhar, meu Deus! A presença dele trouxe de volta La Cumparcita. Voltaram os bailes do clube. Voltou o teu perfume, meu doce. Teu perfume veio-me presentear neste Natal.

E enquanto cantarolava baixinho um trecho do tango preferido, Dona Gertrudes adormeceu lentamente. Já estava quase dormindo quando perguntou para a seda ainda encostada em seu rosto: aquele teu filho que eu não conheci era do Rio, não era Arnaldo? Mas não continuou o assunto. Foi dominada pelo sono reparador que só as antigas paixões podem oferecer.