QUEM
AQUECE O MUNDO
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Maurício
Cintrão
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Nos
corações do pai e da mãe que escolhem o filho há uma eterna árvore de Natal
à espera de novos presentes. Uma árvore de referência, um marco para quem
não quer se perder. É a poderosa árvore que abriga os sonhos de muitas pessoas
e dá sombra no deserto da desesperança.
Nos corações de pais adotivos cabe o mundo porque houve espaço para quem não cabia no mundo. Com filho que se escolhe vem a capacidade de abrigar a humanidade. Pode até nevar lá fora. Ali, ali mesmo, no shopping dos flocos de isopor, está o Papai Noel tão branco que nem parece feito de gente. Neva no sorriso de muita gente que nem sabe que neva ou que existe Papai Noel. Faz frio em muitos corações. É verão no Brasil, mas há gelo dentro de muita gente. Mesmo que o sol cozinhe paixões, cérebros e calçadas. Há pessoas que nevam, geladeiras que andam. Pois papai e mamãe escolheram seu filho e, com isso, aqueceram até quem nem pensava que estivesse com frio. Porque os seres humanos são assim. Uns compensam as faltas dos outros. Sempre foi assim. O herói salva muito mais pessoas do que aquelas que tirou do fogo. Salva todos nós de nossos incêndios mesquinhos. Pai e mãe que escolhem têm as mãos da coragem que cumprimenta o futuro. Não são heróicos porque escolheram, até mesmo porque transcendem a esse tipo de conceito. Fazem a vida valer a pena e isso é muito mais do que heroísmo. Pai e mãe que escolhem ensinam o caminho. E estendem a mão para ajudar quem ainda vem vindo. Mesmo que neve do outro lado do cumprimento, calor há de vir para degelar o desânimo dos desistentes. Ninguém desiste definitivamente, nem quando desiste para sempre. Papai e mamãe sabem disso. Sempre resta alguma chama para fazer a vida brilhar. Uma lembrança agradável é fogueira para muitas saudades amenas. E o gelo nada mais é do que a falta de calor. Pede calor, portanto. Lembrar que, neste Natal, haverá um casal feliz com seu filho escolhido é encontrar a lenha necessária para muitas outras fogueiras. Pai e mãe escolhem não sabem, mas, na escolha, aqueceram o mundo. Hoje, têm muito calor para dar. Não, não é amor, é calor mesmo. É o calor da vida gerado nas fornalhas do sofrimento. A verdade é que os sentimentos de hoje foram forjados nos cadinhos da dor. Quem sofre e continua vivo é capaz de amar melhor do que qualquer outro. Preparam-se os presentes, enfeitam-se as ruas, as lojas e as casas. Há até um certo clima de cordialidade entre as pessoas. Está chegando o Natal. E os pais que escolheram seu filho sorriem porque venceram uma batalha. Este ano, quando der a hora, eles vão chorar. E quem conhecer sua história também vai chorar. Não o choro dos lamentos ou das despedidas. O choro das boas vindas a uma criança querida que, de tanto aguardada, ensinou a amar. |