A HISTÓRIA DOS PIMENTÕES
Lisa Simons
 
 
Os pimentões cresceram ficaram cada vez maiores, hoje percebo a mudança: a aparência foi privilegiada ao paladar, aos nutrientes.

O fermento que fez crescer os pimentões foi nossa indiferença, nosso escárnio com os verdadeiros pimentões, já que insistíamos em escolher os mais graúdos.

A maioria de nós deseja ser como o pimentão moderno e aplaude sua exuberância convidativa à degustação. Mas quanto engano, pois nada se compara ao antigo que bastava uma lasca para perfumar o prato e lhe dar sabor.

Socaram dentro do pimentão uma infinidade de células isentas de identidade, elas o fazem atraente, invulnerável e econômico, ordenando-lhe:

- Fruto cresça bonito e viçoso, não deixe sequer um verme lhe saborear, o homem, idiota final, vai comê-lo e mais uma vez se enganar!

Aplausos! O pimentão na foto é transgênico nunca vai se contaminar!

Mas de que é feito afinal esse fruto de laboratório senão de nossa pretensão absurda em cultuar o exterior, de brincar com a vida e segregar aquilo que julgamos imperfeito!

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Há um mês meu amigo cheirou um vidro de lança-perfume, a droga paralisou-lhe os sentidos fazendo-o despencar das alturas. O sangue derramado em seus cabelos me deixou assim fragilizada e revoltada com o que fizeram aos pimentões.

Talvez meu amigo estivesse insatisfeito com sua aparência, tão diferente do estereótipo anabolizado das academias e quisesse ser igual a esses novos frutos transgênicos: imenso, oco, insípido, quase inodoro, feito quem sabe até de veneno, pois se ignora inteiramente os efeitos da química em sua reprodução.

 
 
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