A
HISTÓRIA DOS PIMENTÕES
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Lisa
Simons
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Os
pimentões cresceram ficaram cada vez maiores, hoje percebo a mudança: a
aparência foi privilegiada ao paladar, aos nutrientes.
O fermento que fez crescer os pimentões foi nossa indiferença, nosso escárnio com os verdadeiros pimentões, já que insistíamos em escolher os mais graúdos. A maioria de nós deseja ser como o pimentão moderno e aplaude sua exuberância convidativa à degustação. Mas quanto engano, pois nada se compara ao antigo que bastava uma lasca para perfumar o prato e lhe dar sabor. Socaram dentro do pimentão uma infinidade de células isentas de identidade, elas o fazem atraente, invulnerável e econômico, ordenando-lhe: - Fruto cresça bonito e viçoso, não deixe sequer um verme lhe saborear, o homem, idiota final, vai comê-lo e mais uma vez se enganar! Aplausos! O pimentão na foto é transgênico nunca vai se contaminar! Mas de que é feito afinal esse fruto de laboratório senão de nossa pretensão absurda em cultuar o exterior, de brincar com a vida e segregar aquilo que julgamos imperfeito! * * * * * Há um mês meu amigo cheirou um vidro de lança-perfume, a droga paralisou-lhe os sentidos fazendo-o despencar das alturas. O sangue derramado em seus cabelos me deixou assim fragilizada e revoltada com o que fizeram aos pimentões. Talvez meu amigo estivesse insatisfeito com sua aparência, tão diferente do estereótipo anabolizado das academias e quisesse ser igual a esses novos frutos transgênicos: imenso, oco, insípido, quase inodoro, feito quem sabe até de veneno, pois se ignora inteiramente os efeitos da química em sua reprodução. |