DESTINO
E NATAL
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François
Porpetta
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Destino,
até que ponto interferes em meu Livre Arbítrio?
Até que ponto pode meu Livre Arbítrio interferir no Destino? - François Porpetta - 1600/1647 A noite de um dia difícil já ia alta - matar a saudades dos ansiosos e difíceis meses de separação em poucas horas era praticamente impossível, e eu já havia até cochilado na rede. Minha filha dormia a sono pleno, sonhando com o vestibular do dia seguinte, e meu filho matava o tempo massacrando o computador. Finalmente conseguia experimentar a doce sensação de ter a família reunida novamente. É um vórtex de emoções que se forma e desemboca incontrolável em nosso coração - impossível escolher o que sentir antes ou depois - apenas sente-se, venha o que vier e quanto mais melhor. Quase duas da manhã, e uma pesada nuvem de chuva, formada na quentura das águas atlânticas anuncia sua chegada através de fortes rajadas de vento que espalham seu aroma de maresia, impregnando nossas almas agora sossegadas. E o Destino? Onde entra o Destino neste Natal? Aqui, agora, sem que ninguém nem imaginasse ou pressentisse. A TV quebrada há 3 longos meses! É melhor descer a TV para o carro agora, assim logo pela manhã posso deixa-la na oficina, na volta do vestibular de minha filha. Achei que difícil seria meu filho ajudar a transportar, mas, inesperadamente largou o detonado computador e me acompanhou na caseira tarefa de um pai ausente do lar. Percebe o Destino? Não? Mas a mão dele está aí! A carregada nuvem de chuva já passou, ficam o marcante cheiro de terra molhada e o quente e amistoso vento noturno que banha nossos rostos, trazendo do subconsciente mais profundo uma sensação benvinda de infinito - parece que já sentida há milhares de anos. Olhamos, meu filho e eu, para Sirius brilhando bem forte no céu agora limpo. E eis quando o Destino mostra sua mão estendida! Foi muito rápido, como só os meteoritos conseguem ser, e um risco platinado vindo de Cão Maior se desenha no céu. Só para nós dois! - Viu? Perguntamos os dois ao mesmo tempo! E nem mal havíamos terminado de fazer o desejo, lá vem o segundo meteorito iluminando de maneira inesperada - como só o Destino consegue ser, nossos olhares sorridentes! - Um para cada um! Disse, meu filho, percebendo de imediato a maquinação do Destino. Rochas estelares, de que estranhos materiais são feitos os meteoritos? De sonhos e desejos, talvez. Duvido que outros Seres Humanos tenham visto esses dois meteoritos, que espocaram tão rapidamente em um presente só nosso! Quantos milhões de quilômetros, anos-luz, ou seja lá qual a unidade astrofísica usada para medir distâncias meteoríticas, essas duas rochas anônimas viajaram pelo espaço? Só para terminarem sua longa viagem, num maravilhoso espetáculo de duração infinitesimal, menor que um abrir e fechar de olhos, pegando ambos de olhos abertos, duas vezes seguidas! Destino, que nos tomou dos afazeres comuns, e nos colocou como testemunhas, provavelmente únicas e especiais, com ingressos grátis e na melhor fila, do espetáculo celeste predestinado desde há milhões de anos luz a se concretizar frente a nossos extasiados olhos e almas. Espetáculo produzido e dirigido por Ele. Sim, Ele! Aquele mesmo que dizem ter nascido num dia de Natal! No dia seguinte, indo para o tal vestibular, e antes de deixar a TV, minha filha solta o sentimento e liga todos os elos: - Pai, eu não gosto desse Natal que tem por aí, primeiro porque me lembra quase nunca termos passado os Natais juntos, e depois porque esse que está aí é o Natal do materialismo, consumismo, presentes, shoppings, comércio. Pobre só é lembrado no Natal pra tentar livrar a cara dos ricos, como se Ele se deixasse enganar tão estupidamente! Festa inventada pelos comerciantes. Cadê o Natal? Não engulo esse Natal Comercial, nem o Natal Social que as Igrejas querem empurrar goela abaixo de todo mundo. Não aceito e pronto! Prefiro o Natal com presentes de meteoritos, que comemoram conosco Sua eterna presença! Presentes do Filho aniversariante para nós, humildes convidados. Quem disse que Cristo veio aqui, ficou meros 33 anos (um bilionésimo do nada perante a eternidade) e foi embora? Sinto o que sinto. Se tiver mais alguém que sinta, ótimo! Sinto que Ele veio, sim! Veio, fez tudo o que fez, e muito mais. Não vai voltar, simplesmente por que é impossível voltar sem nunca ter ido! Ele nunca partiu! Está aqui agora, dentro de cada um que lê estas linhas, dentro de cada um que olha o céu de estrelas e meteoritos, dentro de cada um que sente o morno vento banhar seu rosto, dentro de cada um que vive! Ele não volta, porque nunca foi! Ele está, Ele é! E não precisa de nenhum Natal Comercial ou Social para festeja-Lo. Basta senti-Lo. FELIZ ANIVERSÁRIO! FELIZ SEMPRE NATAL PARA TODOS! |