INSÔNIA
Juraci de Oliveira Chaves
 
 
Madrugada alta e eu ainda não tinha pegado no sono. Noite comprida. A maldita insônia parecia ser pior que as outras. O calor era intenso e aquele episódio não me deixava dormir. Não saía da minha mente, o semblante infantil, com olhos fixos, quase suplicante. Não sabia o que pedia mas, pedia. Quase mendigava. No seu olhar tristonho refletia uma mensagem com marcas de sofrimento, de saudade. Saudade de quem? O pai, não conheceu, a mãe que o deixou ali, prometeu voltar para buscá-lo e já fazia tempo. Tornara-se arredio, solitário, mas, muito inteligente. Com seus cinco aninhos já conseguia ler nos livros e jornais. Conhecia todos os times e nomes dos jogadores do brasileirão.

A visita de ontem deixou-me perturbada:

"O que será que existe naquele aperto frágil, suplicante? Ele me abraçava com tanta veemência! Qual a razão de estar ali, sem sua família?" - pensava melancólica.

Minha cama parecia ter espinhos. Na casa, lâmpadas acesas e o arrastar de chinelos marcavam a falta de sono; olhos pesados mas, não conseguia dormir. Então o dia amanheceu e com ele a esperança, a alegria do recomeço.

Esperei o horário de visitas e lá fui com uma ansiedade diferente. Algo novo brotava dentro de mim. A tristeza numa metamorfose natural começou a dar espaço à alegria. Com a sacola cheia de brinquedos, doces, chocolates e balas, atravessei o portão de entrada da instituição. Ele já me esperava, no gramado do jardim, sob uma palmeira. Somente eu aparecia para abraçá-lo.

Tão carente, só queria a mim. E eu só queria a ele. Me fazia falta... talvez por morar sozinha numa casa tão grande, tão vazia.

Um dia, cheguei e ele chorava no colo da mãe. Havia aparecido para buscá-lo. Ele não queria ir.

Quando me viu, correu para os meus braços, gritando:

- Por favor tia Lu. Não quero ir. Quero ficar aqui com você.

O coração de Zeca batia acelerado. Os seus braços enlaçaram o meu pescoço. As lágrimas faziam marcas na face inocente e molhavam o colarinho da minha blusa branca, agora amarrotada. Desconcertante momento.

Aproximei-me da mãe querendo amenizar a situação:

- Por que ele não quer ir com a senhora?

- Ele ainda não me conhece direito. Deixei-o aqui logo que nasceu. Agora vou levá-lo. A não ser que...

- A não ser que...

- Que a senhora queira adotá-lo. Sei que gosta do garoto e é a preferida dele. Soube dar a ele o carinho que lhe neguei.

- Fala sério?

- Não tenho como criá-lo. Falta-me tudo...

A mãe falava quase num desabafo. Sem esperar a minha resposta foi saindo devagarinho até sumir na curva. Chorava...

 
 
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